Clássicos do catálogo | ‘Filosofia da civilização’, de Albert Schweitzer

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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Querer viver é mais importante do que conhecer o sentido do mundo para Schweitzer

Em meio à pandemia da Covid-19, as pessoas são tomadas por um desejo forte e genuíno de querer viver. Pois é em tempos de crise que esse sentimento se fortalece sobremaneira, como podemos verificar na indicação da seção Clássicos do Catálogo desta semana: Filosofia da civilização, escrito pelo médico, músico e filósofo Albert Schweitzer, laureado em 1952 com o Prêmio Nobel da Paz. 

A obra de Schweitzer, concluída entre 1914 e 1917 - em meio à Primeira Guerra Mundial - faz uma crítica à filosofia ocidental por seu fracasso em construir, como se propõe, uma visão duradoura de mundo capaz de fundar uma civilização baseada no otimismo perante a vida e na ética. E propõe um novo caminho: retomar o antigo Racionalismo do século XVIII dando-lhe novos contornos, como Racionalismo incondicional. Esse novo pensamento deixa de lado a obsessão por conhecer o sentido do mundo – que admite como meta intangível – e centra-se no sentimento de “querer viver”. 

Para o alemão, é no desejo de viver, inerente a cada um, que reside a visão de vida otimista e ética, que necessariamente precede a visão de mundo, em vez de enraizar-se nesta: se reverencia a própria vida, cada ser humano deve considerar sagrada toda e qualquer vida. Ao aprofundar tal interpretação, o Racionalismo incondicional aflui para o misticismo, propondo que, por meio da atitude otimista da vida e do mundo e também da ética, o ser humano satisfaz o desejo universal de querer viver que nele se revela. O filósofo escreve: “Vivo minha vida em Deus, na misteriosa personalidade divina e ética que não reconheço dessa forma no mundo, mas apenas a vivo como um anseio misterioso em mim”. 

Contudo, acredita, as ciências e a técnica, uma vez inseridas no cotidiano, prejudicam nas pessoas a capacidade de autorreflexão e concentração, o que repercute em sua vida familiar e na educação de seus filhos, ensejando “dano material e espiritual”: “Totalmente absorvidos pela mais encarniçada luta pela existência, muitos de nós já não têm condições de pensar em ideais de sentido civilizatório. Não contam mais com a objetividade necessária para tanto”. 

A verdadeira civilização, assim, decorreria da ação de pessoas com capacidade para “pensar” de acordo como o Racionalismo incondicional, ou seja, a partir do desejo universal de viver, mesmo que não seja possível explicar o mundo. Tal civilização não sacrificaria nenhum ser humano às circunstâncias, nem faria das massas mero instrumento para sua construção, como, segundo o pensador, propõe certa filosofia. 

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
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