E. T. A. Hoffmann alça a literatura alemã ao universo fantástico e do humor sombrio

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segunda-feira, 13 de março de 2023

Autor de narrativas curtas e médias, entre contos e novelas, das quais se destacam duas, em especial, que se materializam nesta nova edição

Escritor de características e talentos multifacetados – e, por isso mesmo, de difícil definição –, o alemão Ernst Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann costuma ser saudado, principalmente, pela surpreendente maneira como alçou a literatura alemã ao universo do fantástico. Mais: caracterizou-se ainda por um humor particular, raro nas letras germânicas ao longo da transição do século XVIII para o XIX, na ascensão do romantismo. Tendo assinado apenas dois romances (Reflexões do gato Murr e Os elixires do diabo), ele ostenta, por outro lado, uma expressiva produção de narrativas curtas e médias, quase uma centena, entre contos e novelas, das quais se destacam, em especial, as que formam o par que materializa esta edição: O vaso de ouro: um conto de fadas dos tempos modernos e Princesa Brambilla: um capriccio inspirado em Jacques Callot.

“Nas tentativas de explicar de que modo a música – à época, tida na Europa como a expressão mais nobre do espírito artístico – o impactava, Hoffmann sempre atribuía a ela contornos transcendentais, como se qualquer esforço de defini-la em palavras fosse vão. Foi dessa maneira que a influência da música, mesmo em toda a sua subjetividade simbólica, acabou por se constituir num dos elementos estéticos da produção literária hoffmanniana, como constatamos em O vaso de ouro”, anotam os editores. “Nele, acompanhamos a jornada de Anselmo, um indivíduo que, num dia da Ascensão, envolve-se num pequeno incidente com uma feirante. Fugindo das pragas que a velha lhe roga, o herói sublima a própria existência terrena fazendo desbravar uma segunda realidade, paralela – em que serpentes podem ser apaixonantes, e um reino perdido, a Atlântida, é pintado como o eldorado redentor da falibilidade humana.”

Já em Princesa Brambilla, originalmente publicada em 1821, aquilo que a princípio poderia levar o leitor desavisado a supor uma mera história de amor ambientada num Carnaval em Roma, envolvendo o ator Giglio e a figurinista Giacinta, rapidamente muda de tom, com a narrativa trazendo à tona elementos perturbadores, soturnos, grotescos. Muitos, aliás, veem nisso rudimentos antecipatórios do expressionismo, vanguarda artística que só viria a surgir efetivamente na Alemanha um século depois da morte do autor. “Tal como em O vaso de ouro, também em Brambilla é um pequeno incidente no cotidiano ordinário – um dedo que sangra pela pontada de uma agulha de costura – o estopim para a iconoclastia criativa de Hoffmann desordenar as percepções da realidade, em ‘distorções’ identitárias do par protagonista, que então ressurge na condição de príncipe e princesa.”

É importante assinalar também a veneração que Hoffmann tinha pelo francês Jacques Callot, ilustrador que viveu na virada do século XVI para o XVII, reconhecido pela forma como registrou, em seus traços, convulsões sociopolíticas do país e também artistas itinerantes da commedia dell’arte, quando viveu na Itália. Hoffmann exaltava a capacidade de Callot de, muitas vezes, lançar mão de desenhos cuja força conceitual era muito mais sugerida, simbólica, que explícita, didática – e, justamente por isso, capaz de estimular o universo imaginativo de quem os fruísse. As ilustrações de Princesa Brambilla são de Karl Friedrich Thiele, que se baseou no trabalho de Callot, naturalmente adaptando-as para os personagens e o contexto de um Carnaval romano, pano de fundo dessa delirante narrativa.

Sobre a coleção – Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Confira aqui as obras já publicadas.

Título: O vaso de ouro: um conto de fadas dos tempos modernos / Princesa Brambilla: um capriccio segundo Jacques Callot
Autor: E. T. A. Hoffmann
Tradução: Mário Luiz Frungillo
Número de páginas: 264
Formato: 13,5 x 20 cm
Preço: R$ 69
ISBN: 978-65-5711-075-1  

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