Manuel Antônio de Almeida escala o malandro como protagonista de seu único romance

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Escritor numa época em que a ficção de folhetins era marcada pela idealização romântica, escritor rompeu o ciclo de heróis aristocráticos, de ambientes sofisticados e aventuras amorosas 

Com valor resgatado pelo movimento modernista, a obra de Manuel Antônio de Almeida obteve o devido reconhecimento apenas no século XX. No período em que escreveu, em meados dos anos 1800, rompeu com o ciclo de heróis aristocráticos, de ambientes sofisticados e aventuras amorosas que povoava os folhetins daquele tempo, para narrar o cotidiano das classes populares e de seu anti-herói por excelência: o malandro. O exemplo mais consagrado disso é Memórias de um sargento de milícias, único romance publicado pelo escritor, que integra a Coleção Clássicos da Literatura Unesp, lançamento da Editora Unesp. A história nasceu como folhetim publicado sob pseudônimo, entre julho de 1852 e julho de 1853. No ano seguinte a obra foi lançada como livro, mas o nome verdadeiro do autor só seria revelado em 1863, na terceira edição do romance, publicada postumamente e dividida em dois volumes para a coleção Bibliotheca Brasileira, da Tipografia do Diário do Rio de Janeiro.

“Filho de uma pisadela e de um beliscão”, referência ao modo como seus pais se conheceram no navio que os conduzia de Portugal ao Brasil, o protagonista Leonardo tem sua vida contada a partir de sucessivos reveses: abandonado pelos pais aos sete anos, é criado pelos padrinhos, mas ainda cedo desiste da vida estudantil e religiosa para dedicar-se às trapaças e ao ócio. Oportunista e indolente, espécie de pícaro pela bastardia e ausência de conduta ética, Leonardo não sofre por amor, tampouco tem crises morais. Quando se torna sargento, identifica-se mais com a malandragem que com o mundo da ordem. Além de acompanhar a trajetória do protagonista, essa “crônica de costumes” retrata o cotidiano de outros tipos comuns do Rio de Janeiro na época de dom João VI, como o barbeiro, a parteira, o major, a cigana, o padre, todos marcados por algum desvio de caráter manifesto ou latente.

O autor aproveita essas histórias para expor e alegorizar os impasses sociais e políticos que se prolongavam desde a Independência do Brasil, em 1822. Nesse sentido, Memórias de um sargento de milícias ficcionaliza o passado colonial para compor uma sátira social de seu tempo presente. Pela agudeza com que desenhou seus personagens e destacou problemas sociais, pela visão menos idealizada do amor e da realidade e pelo ritmo ágil que imprimiu à narrativa, Manuel Antônio de Almeida é considerado precursor do Realismo no Brasil. 

Sobre a coleção – Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Confira aqui as obras já publicadas. 

Título: Memórias de um sargento de milícias
Autor: Manuel Antônio de Almeida
Número de páginas: 256 
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 48,00
ISBN: 978-65-5711-064-5 

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