Ruy Fausto investiga as reverberações da 'Lógica' de Hegel em Marx

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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Obra examina os elementos do hegelianismo de Marx, o que separa a dialética dos dois filósofos e qual seu substrato comum como parte de um estudo de largo espectro levado a cabo pelo autor 

Por mais de um século, discutiu-se sem muito rigor a relação entre a lógica articulada n’O capital, de Marx, e a Lógica de Hegel, sem que o problema fosse escrutinado em toda sua complexidade, o que levou, com algumas exceções, à esterilidade dos resultados. Mas, afinal, em que consiste, o hegelianismo de Marx? O que separa a dialética dos dois filósofos, e qual é o seu substrato comum? Pois é em busca de respostas a essas questões que o filósofo Ruy Fausto se embrenha em O capitale a Lógica de Hegel: dialética marxiana, dialética hegeliana, escrita originalmente em francês e publicada em 1997, que apenas agora ganha sua primeira versão em português pela Editora Unesp.

Na obra, que tem sua raiz num estudo independente, mas também gestado como parte de um exame de largo espectro sobre dialética, Ruy Fausto estuda as reverberações da Lógica de Hegel em Marx, privilegiando alguns momentos particularmente marcados pelo hegelianismo no livro I de O capital, para em seguida empreender um sobrevoo sobre os três tomos.

“Relendo este texto, vinte anos depois da sua redação, sou levado a dois tipos de reflexões. Uma é sobre a riqueza lógico-dialética de O capital, e da sua matriz, a Lógica de Hegel”, comenta Ruy Fausto, em 2019, no prefácio que escreveu à edição brasileira. “Numa época em que o anti-hegelianismo se transformou numa espécie de bandeira comum de filosofias em dissenso mútuo, na Europa e na América, é bom mergulhar de novo nesse modo de pensar, por excelência conceitual e crítico. A segunda reflexão vai em outra direção. Se a dialética de O capital se impõe em geral pela sua força conceitual e seu rigor teórico, seria uma ilusão supor que esse juízo implica dar um satisfecit in limine à crítica marxiana da economia política. O reconhecimento da sua força teórica geral implicaria tal acordo? Apesar das aparências, não.” 

Para a versão brasileira, a obra foi retrabalhada e revisitada pelo autor de forma exaustiva. O próprio Ruy Fausto assegura que “não duvidaria em afirmar que me identifico com essa leitura. Em grandes linhas, não teria nada a modificar”. Mas alerta que, feita uma inspeção mais cuidadosa, descobriu no plano micrológico, várias imprecisões e obscuridades. “Faltavam também mediações essenciais à boa clareza do texto. Não tive escrúpulo em introduzir modificações onde isso me pareceu necessário”, explica. “Optei por não mudar a essência do escrito onde ele, simplesmente, enveredava por caminhos um pouco tortuosos. Procedi assim porque, se posso dizer desse modo, um livro antigo merece respeito.” Dessa forma, não só novos leitores, mas também aqueles que já se debruçaram sobre os originais franceses ganham com essa edição renovada.

Sobre o autor – Ruy Fausto (1935-2020), doutor em Filosofia pela Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne e professor emérito da Universidade de São Paulo, dedicou-se, entre outros temas, a uma profunda investigação da dialética de Hegel e Marx. Escreveu obras em francês e em português, das quais se destacam Marx: lógica e política (1983), Dialética marxista, dialética hegeliana: a produção capitalista como produção simples (1997), Sentido da dialética – Marx: lógica e política, tomo I (2015) e Caminhos da esquerda: elementos para uma reconstrução (2017). 

Título: O capitale a Lógica de Hegel: dialética marxiana, dialética hegeliana
Autor: Ruy Fausto
Tradução: Arthur Hussne Bernardo, Nicolau Spadoni e Paulo Amaral
Número de páginas: 190
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 48
ISBN: 978-65-5711-028-7

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