Escritor relatou desde fatos que marcaram sua infância e juventude em Manaus, os escritores que o influenciaram, seu processo criativo até seu próximo livro e sua decisão de fixar-se no país.
A série Encontro com os escritores, promovida pela Universidade do Livro, recebeu na noite desta quarta, 26 de outubro, o escritor Milton Hatoum, para um bate-papo com seus leitores e fãs, mediado pelo jornalista e crítico literário Manuel da Costa Pinto.
Rememorou fatos da infância e juventude em Manaus onde nasceu e cresceu, até a ida nos anos 1960 para a metrópole mais próxima, Brasília, que ainda “era virgem”. “Odiei”, afirmou. “Os arquitetos não planejaram a cidade para uma ditadura: não tem para onde correr, esquina para dobrar, buraco para se esconder...”. Talvez por essa relação difícil com o espaço urbano da capital tenha escolhido cursar Arquitetura na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). Mas foi lá em Brasília que publicou seu primeiro conto, no Correio Braziliense, ganhador de um concurso literário.
Ainda estudante, descobriu que não seria arquiteto. Começou como freelancer na IstoÉ, na época dirigida por Mino Carta, fazendo resenhas de teatro e entrevistas com diretores. Em 1978, fez uma matéria sobre a Igreja Universal e o editor achou que aquilo era pura ficção, mas era tudo verdade. “Me sentia muito mal com o Brasil naquele momento e resolvi morar fora”. Viveu na Espanha e na França. Voltou a Manaus com metade do romance Relato de um certo Oriente já escrito, mas levou ainda quatro anos para concluí-lo [ganhador do Prêmio Jabuti em 1990].
Com seu jeito eloquente de narrar e descrever pessoas e episódios com parcimônia de adjetivos, mas carregado de cores, aromas e sons que envolvem o leitor, Hatoum encantou a plateia com sua prosa extremamente lapidada, como observou Manuel da Costa Pinto. Falou da relação com seu editor Luiz Schwarcz, na Companhia das Letras, com os editores internacionais de seus títulos (que alteram a tradução e mudam o sentido), da adaptação de suas obras para teatro, minissérie e HQ, seu processo de escrita (absolutamente à mão, na “edícula do saber”, como nomeia seu escritório, para onde não leva nem o celular), da concepção a priori de suas obras, como “um projeto arquitetônico, com esboço e tudo”, da relevância de escritores como John Meade Falkner, Tennessee Williams, Philip Roth, e o maior de todos para ele, Guimarães Rosa.
Hoje, recusa convites para lançar seus livros e fazer palestras no exterior, mas não no Brasil. “Tenho sede do Brasil”. Perguntado se iria a Belém, respondeu: “Belém é a cidade de minha alma”. Após o bate-papo, Hatoum autografou seus livros.
As fotos estão disponíveis no álbum do evento, no Facebook da Universidade do Livro. Clique aqui para conferir.
O próximo encontro será com o jornalista e escritor Laurentino Gomes, no dia 30 de novembro. Clique aqui para mais informações.