Todorov busca a dimensão moral da vida extrema nos campos de extermínio do século XX

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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Filósofo recentemente morto defendia que mesmo nesta condição o viver não perde suas características morais

Quando se pensa na Segunda Guerra Mundial, uma das imagens mais marcantes que vêm à mente é a de prisioneiros famélicos em campos de extermínio. Mas, diante desse cenário adverso no qual se conhecia a faceta mais cruel dos seres humanos, havia espaço para a dimensão moral na convivência? Para Tzvetan Todorov, no lançamento da Editora Unesp, Diante do extremo, a resposta é sim.

Partindo da ampla sorte de depoimentos e relatos dos homens e mulheres que sobreviveram aos campos nazistas e gulags soviéticos e oficiais dos regimes, o autor depura um novo sentido às dimensões da vida no contexto de situação limite: a dimensão moral existia. Ele identifica valores ditos positivos (companheirismo, fidelidade incondicional e resignação estoica, por exemplo) e também negativos, como covardia e traição. A complexidade do momento é tamanha que, ao lado da crueldade dos agentes do Estado, há espaço para a surpresa com exemplos de identificação e até de comiseração. 

“Provavelmente a verdade é que uma experiência como a dos campos obriga os indivíduos a amadurecer mais rapidamente e lhes ensina lições que não teriam adquirido fora de lá”, escreve Todorov. “Frequentemente os sobreviventes têm a impressão de, durante esse período, terem estado mais próximos da verdade que durante o resto de suas vidas.”       

O escritor divide o livro em três capítulos, cujos temas se ramificam em subcapítulos. Todos gravitam em torno de valores morais identificados a partir da literatura memorialista dos sobreviventes e seus algozes, como a ideia de heroísmo, discutida logo no início da obra com a sublevação dos poloneses contra o jugo alemão. “O mundo dos heróis – e é provavelmente aí que reside sua fraqueza – é um mundo unidimensional, que só comporta dois termos opostos: nós e eles, amigo e inimigo, coragem e covardia, herói e traidor, preto e branco.”

Sobre o autor – Nascido na Bulgária, em 1939, Tzvetan Todorov radicou-se na França em 1963. Filósofo, historiador, crítico literário, é autor de dezenas de obras. Sua trajetória intelectual é permeada pela multiplicidade temática. Inscreve-se entre os expoentes surgidos no século XX no campo das ciências humanas. Faleceu em 7 de fevereiro de 2017, em Paris. De sua obra, a Editora Unesp já publicou Teoria da literatura: textos dos formalistas russos (2013), Simbolismo e interpretação (2014), A vida em comum: ensaio de Antropologia geral (2014), Teorias do símbolo (2014) e Crítica da crítica (2015).

Título: Diante do extremo
Autor: Tzvetan Todorov
Tradução: Nícia Adan Bonatti
Número de páginas: 461
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 79,00
ISBN: 978-85-393-0681-7 

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp