Do Renascimento ao século XVIII
Esses Ensaios de teatro e filosofia têm como fio condutor a filosofia de Diderot e Rousseau, em paralelo com o teatro forjado pela Contrarreforma. A autora faz uma leitura a contrapelo da tendência desconstrucionista, que passa ao leitor contemporâneo a falsa impressão de que Diderot tenha defendido a metafísica da presença, contra a representação. Rousseau trabalha na confluência de teoria da linguagem, moral, política e teatro. No âmbito ibérico, vemos as consequências políticas do entrecruzamento da comédia e da tragédia praticado pelo dramaturgo luso-brasileiro António José da Silva, o Judeu. Retrocedendo ao século XVII, o cartesianismo encontra terreno fértil nas tragédias de Corneille e o teatro do Século de Ouro é atravessado pelo jusnaturalismo defendido por Grotius. Na commedia dell’arte, o desbragamento é compatível com o dogma da Queda como apanágio do humano e com o excesso de dispêndio, próprio da sociedade de corte. Shakespeare assume o hermetismo concebido em Florença no Quatrocentos para caracterizar a personagem Ofélia como regida pelo elemento água; a própria catástrofe de Hamlet está associada a seu temperamento melancólico.
Ana Portich participou, na virada dos anos 1990, de grupos de teatro como o Boi Voador e o Teatro Oficina, atuando na área de produção e direção. Em 2002 realizou parte do doutoramento na Universidade Ca’ Foscari, de Veneza, e, de 2005 a 2007, pós-doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob orientação de Bento Prado Jr. e Luiz Roberto Monzani. Em 2016 fez pós-doutorado na Universidade Sorbonne. Desde 2010 é professora de Filosofia na Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Marília. Entre suas publicações, destaca-se A arte do ator entre os séculos XVI e XVIII, sobre o comediante, lançado em 2008 pela editora Perspectiva.
As relações entre Jean Piaget (1896-1980) e os filósofos nem sempre foram pacíficas. Nesta sugestiva e harmoniosa reunião de textos, Barbara Freitag, conhecida socióloga alemã e freqüente colaboradora das universidades brasileiras, examina a obra do criador do Centro de Epistemologia Genética de Genebra, à luz do grande racionalismo ocidental. Os pensadores aqui examinados são Rousseau, Kant e Habermas. Do desenho que se traça de Piaget como antigo filósofo e de Piaget como futuro filósofo, o que acaba sobressaindo, em meio às tendências irracionalistas correntes, é um claro perfil de Piaget como filósofo, com o que o presente livro se revela um importante instrumento crítico para a reavaliação das numerosas "leituras" de Piaget que se fazem no Brasil.
Livro que aborda, como tema central, a construção do conhecimento geográfico, centrada no método científico, e resgata a teoria do conhecimento na sua relação com a realidade objetiva. O autor explica a estruturação de três métodos: hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico-hermenêutico e encaminha a discussão de conceitos, teorias e temas geográficos. Com linguagem clara e fluidez do texto, é possível uma leitura esclarecedora das reflexões relativas ao conhecimento científico e sobre fazer ciência.
Escritos em diferentes momentos e circunstâncias da carreira do pesquisador Alvaro Santos Simões Junior, este conjunto de dez ensaios trata da produção, circulação e recepção de obras literárias no Brasil a partir do fim dos anos 1800.
O primeiro texto reconstrói o ambiente em que, na virada século 19 para o século 20, da Monarquia para a República, do trabalho escravo para o livre, surgiram novas condições para o trabalho intelectual. O texto seguinte fala de uma modalidade bem-sucedida de atuação profissional dos escritores daquele período - as revistas de ano. Enquanto os romancistas seguiam os passos de Émile Zola e Eça de Queiroz, utilizando linguagem depurada, os “revisteiros” aderiam à metalinguagem e à paródia, e abusavam da fantasia, incorporando os variantes regionais e sociais.
O terceiro e o quarto ensaios ainda olham para aquele momento histórico. Analisam, respectivamente, romances naturalistas brasileiros e notícias a respeito da morte de Zola, oferecendo, ambos, uma ideia de como era complexa relação dos intelectuais brasileiros com os amados e, eventualmente, odiados mestres europeus. O texto seguinte trata da literatura paradidática da Primeira República, à qual se dedicaram sistematicamente vários escritores daquele período.
Os três ensaios subsequentes resultaram de investigação do autor sobre a repercussão do Simbolismo nos periódicos brasileiros e revelam a importância da imprensa periódica para a divulgação e circulação das obras literárias: o primeiro analisa um hebdomadário dirigido de 1893 a 1895 por Artur Azevedo; o segundo examina a atuação de Medeiros e Albuquerque como crítico literário do vespertino A Notícia de 1897 a 1905; o último aborda as intervenções do jovem Paulo Barreto, redator da Cidade do Rio, jornal de José do Patrocínio, contra o Simbolismo brasileiro na virada do século.
O penúltimo estudo da coletânea reflete sobre a obra de Ana Cristina Cesar, autora mais representativa da “geração mimeógrafo”, que criou em pleno regime militar um circuito independente de produção e circulação de obras literárias. Encerra o volume um ensaio sobre a obra de Menalton Braff direcionada ao público jovem.
Em um momento em que o interesse pelo pensamento liberal está de volta, um retorno aos princípios é particularmente bem--vindo. Princípios entendidos aqui não apenas como início – e a obra de Adam Smith é, indiscutivelmente, um dos pontos inaugurais do liberalismo econômico –, mas, especialmente, como elementos de base, fundamentos: é a própria filosofia de Smith que o leitor tem em mãos. Qual a fonte de nossos conhecimentos? Como se organiza a experiência? Quais as relações entre linguagem, pensamento e sensação? O que é ciência? Para que ela serve? Eis algumas das questões que os ensaios aqui reunidos buscam responder, com raro rigor, originalidade marcante e brilho característico.
Esta coletânea de artigos aborda as principais características do teatro ocidental, desde a tragédia grega até a dramaticidade e o espetáculo na obra Macário, de Álvares de Azevedo, passando por momentos do teatro latino, a tragédia shakespeariana, o teatro clássico francês e alemão, o melodrama e sua relação com a soberania popular, o simbolismo francês, a dramaturgia de Raul Brandão, o teatro norte-americano no século XX, um panorama sobre o teatro brasileiro e uma leitura de O Marinheiro, de Fernando Pessoa.