Cultura letrada e cultura oral investiga as especificidades do movimento iluminista luso-brasileiro. Munida de vasta documentação historiográfica, Maria Beatriz Nizza da Silva analisa como a palavra oral adquiriu um papel tão relevante quanto a palavra escrita na vida cultural na virada do século XVIII.
Maria Beatriz Nizza da Silva, nascida em Lisboa, é professora titular aposentada de Teoria e Metodologia da História na Universidade de São Paulo (USP). Publicou, pela Editora Unesp, Ser nobre na colônia (2005); História de São Paulo colonial (organização, 2009) e Cultura letrada e cultura oral (2013).
Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas, emerge das sombras da história para ocupar o lugar que lhe cabe na construção de São Paulo colonial. Nascido em cativeiro, filho de mãe escravizada e pai incógnito, sua vida se entrelaça com as complexas teias de uma sociedade escravocrata, mas também revela a força e o talento de um homem que superou as amarras da opressão.
Para a autora, a literatura brasileira, com o modernismo, conquistou sua plena independência e maturidade. Isso inclui a própria língua, que se modernizou, aproximando-se da oralidade. O estudo se debruça ainda sobre a reabilitação romântica do índio ocorrida no modernismo, além do cosmopolitismo e do nacionalismo do movimento. Pau-brasil (1925), de Oswald de Andrade, que satiriza os cronistas coloniais, Martim Cererê (1928), de Cassiano Ricardo, que revisita o bandeirantismo e Cobra Norato (1931), de Raul Bopp, em sua retomada de mitos nacionais, são analisados em detalhe.
Eugenio Garin procura mostrar como um tipo de cultura estreitamente relacionado originalmente às cidades italianas do início da Época Moderna acaba por se constituir uma das precondições para a renovação da ciência e do pensamento científico, trazendo uma nova concepção das relações entre o homem e as coisas, universalizando assim o que parecia específico e localizado.
Esta obra apresenta oito ensaios que constituem uma história cultural em busca de textos, crenças e gestos aptos a caracterizar a cultura popular tal como ela existia na sociedade francesa entre a Idade Média e a Revolução. O intelectual francês mostra que a cultura escrita influencia mesmo aqueles que não produzem ou lêem textos, mas interagem com eles. Ao revisitar a chamada Biblioteca Azul, coleção de livros acessíveis vendidos por ambulantes (romances de cavalaria, contos de fada, livros de devoção), além de documentos próprios da chamada "religião popular" e textos sobre temas que se dirigem a um público geral, como a cultura folclórica, o autor enfoca as tênues fronteiras entre a chamada cultura erudita e a popular e mostra como se ligam duas histórias: da leitura e dos objetos de leitura.
Publicado em 1974, o livro A via crucis do corpo, de Clarice LIspector, foi recebido pela crítica como uma "obra menor", "um desvio", até mesmo "um lixo", em relação aos demais textos da escritora, que o teria produzido por encomenda, em um momento de dificuldades financeiras. Com o propósito de questionar essa crítica cristalizada e, a seu ver, injusta, Nilze Reguera realiza um estudo minucioso sobre esse livro, demonstrando suas qualidades como um trabalho de (e com) a linguagem e como um lugar de problematização de certos conceitos. Defende a necessidade de reavaliar posições interpretativas que não levam em conta sua ambivalência constitutiva, desvelada quando A via crucis do corpo é lida sob a perspectiva da encenação e do fingimento, de modo a se articular perfeitamente ao conjunto da obra legada pela escritora.