Uma voz gritante na América
As vozes literárias em prosa e verso e as atitudes “femininas/feministas” da escritora Alfonsina Storni (1892 – 1938), que nasceu na Suíça e passou a viver na Argentina a partir dos quatro anos, são consideradas referências na América Latina. Mas sua obra Poemas de amor (1926), foco deste estudo, constituída de poemas em prosa, tem sido praticamente ignorada pela crítica e pouco analisada. De acordo com Nildicéia Aparecida Rocha, a escritora revela posições aparentemente contraditórias em relação à mulher naquele livro, transitando entre a visão tradicionalista e/ou a visão contestatória a partir da condição de feminista. Sua identidade “feminina/feminista” seria construída, assim, em meio a certa contradição da representação da mulher no início do século 20, a qual aparece tanto na poeticidade dos textos quanto nos aspectos de narração e argumentação e nos jogos de diálogo entre o eu e o tu poéticos e o leitor. Nesta obra, a autora aborda ainda temas como a produção literária argentina das quatro décadas iniciais dos anos 1900 e o lugar da mulher na literatura hispano-americana da época, desenvolve uma breve biografia de Storni e mostra como foi a recepção crítica à sua obra. A segunda, mais teórico-analítica, Rocha discute, entre outras questões, conceitos como literatura e linguagem poética, diferenças e semelhanças entre poesia e prosa e sua relação com o poema em prosa e as marcas dialógicas que compõem os poemas de amor. Por fim, trata da construção da subjetividade “feminina/feminista” em Alfonsina Storni, percorre a formação histórica da crítica literária feminista e analisa seus poemas em prosa à luz dessa crítica.
Nildicéia Aparecida Rocha é graduada em Letras Português/Inglês pela Unesp e em Letras Português/Espanhol pela Faculdade Educacional de Medianeira. Possui mestrado em Estudos Literários e doutorado em Linguística e Língua Portuguesa, ambos pela Unesp. Atualmente é professora assistente doutora da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp.
Os textos que compõem a coletânea Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional constituem os resultados de pesquisas abrigadas no Projeto do mesmo nome, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Gramática Funcional (GPGF), da UNESP/SJRP, sob a perspectiva do modelo teórico da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008).
Uma contribuição significativa desta obra está em sua própria organização, já que é composta de duas partes: a Parte I é dedicada à subordinação na oração, e a Parte II, à subordinação no sintagma, o que revela um tratamento inédito do fenômeno, raramente dado pela tradição gramatical
A subordinação na oração, por sua vez, se subdivide em subordinação de argumentos, em que se incluem as orações-complementos (Completivas - subjetivas e objetivas) e a oração-predicado (Predicativa), e subordinação de modificadores, em que se encontram as orações adverbiais. Na segunda parte, dedicada à subordinação dentro do sintagma, as orações subdividem-se também em subordinada argumental, a tradicionalmente denominada Completiva Nominal, e subordinada modificadora, denominada Adjetiva.
Ao todo, a coletânea é composta de dez capítulos, sendo o primeiro dedicado a uma breve apresentação da teoria da Gramática Discursivo-Funcional (GDF), que irá, de certo modo, balizar os tratamentos específicos que se desenvolvem nos capítulos subsequentes. Os outros nove capítulos apresentam todos a mesma estrutura, iniciando com Palavras Iniciais, seguida da descrição da oração em pauta e finalizando com Palavras Finais, o que dá uniformidade à obra, como se fosse um livro autoral. Fecham a obra as Considerações Finais, em que se apresenta um balanço dos estudos aqui reunidos, mostrando que despojar as descrições de seu suporte tecnicamente formal resultou em saldo positivo, cumprindo-se o objetivo de facilitar a compreensão do leitor para o que está realmente no foco do volume, o que não implica perda de complexidade descritiva. Além disso, em relação à abordagem teórica adotada, a concepção de organização descendente da gramática, que se inicia no Ato Discursivo, priorizando as propriedades pragmáticas e semânticas como motivações da codificação morfossintática e fonológica, fornece um tratamento novo para a subordinação, evitando repetir descrições já realizadas na tradição gramatical, com as quais, todavia, os textos dialogam constantemente.
Se, antes da introdução das modernas técnicas de produção editorial, no final da década de 1960, o sociólogo francês Robert Escarpit denominou o grande incremento do mercado editorial nos países desenvolvidos, em grande parte devido ao fenômeno do livro de bolso, "revolução do livro", o que dizer das transformações ocorridas nas duas últimas décadas na própria forma como o livro é produzido? Essas transformações foram tantas e tão diversas que seria o caso de falarmos agora de uma "revolução do livro". Esse foi um dos desafios enfrentados na atualização de obra tão importante quanto A construção do livro, de Emanuel Araújo.
Nos ensaios que compõem este livro, Chartier – dialogando com autores como Braudel, Febvre, Ricouer e Freud – analisa esses processos, abordando as continuidades e rupturas em relação ao tratamento que é dado aos livros nas editoras dos dias atuais. O cuidadoso exame de palavras, sentenças, pontuação e traduções emoldura o quadro da produção do livro através do tempo. Estão em foco os autores que vêm se dedicando ao exame minucioso dessas camadas de sedimentos textuais, em busca dos rastros que o processo editorial deixou depositados sobre os textos no decorrer da História. Tomando as obras de Cervantes e Shakespeare como exemplo dos efeitos e variações “impressos” pelo processo editorial, Chartier investiga também a constituição do cânone literário e a noção de autoria nos séculos passados.
Esta coletânea de textos analisa os aspectos centrais da produção de John Searle, um dos mais destacados intelectuais norte-americanos contemporâneos que tem se notabilizado por sua inovadora contribuição à Filosofia da Linguagem. Composto por doze ensaios, o volume discute o legado de sua obra e propõe abordagens inovadoras para questões da área.
Neste livro, José de Souza Martins reúne crônicas inéditas e crônicas baseadas em artigos sobre a cidade de São Paulo e a região metropolitana publicados no caderno "Metrópole" do jornal O Estado de S. Paulo, durante nove anos, de 2004 a 2013. O autor volta um olhar terno, por vezes bem-humorado, outras vezes nostálgico, sobre cantos e recantos paulistanos. Mesclam-se nos saborosos textos o olhar historiográfico, o olhar do sociólogo, mas sobretudo o olhar literário do cronista. Trata-se de um passeio agradabilíssimo pela cidade, que descortina ao leitor insuspeitadas histórias que se escondem nas ruas, nos casarões, nos monumentos de São Paulo.