Os viajantes cristãos nas terras a oriente (séculos XIII-XV)
Este livro inscreve-se em uma perspectiva pouco usual nos estudos sobre as mulheres na história. Susani Silveira Lemos França não se propõe revisitar os documentos produzidos pelos viajantes cristãos em direção ao Oriente, entre os séculos XIII e XV, com a finalidade de desvelar a opressão de gênero ou as desigualdades das relações entre os sexos. Sem tirar o inquestionável mérito das investigações que desnudaram o papel social da mulher ao longo da história, este trabalho tem a particularidade – e nisso está sua principal virtude – de explorar os potenciais dos simbolismos dos sexos em uma perspectiva não essencialista. O objeto principal da obra são justamente as nuances do olhar do homem cristão sobre mulheres observadas de longe, por vezes, até com indiferença. A autora lembra historiadores como Georges Duby e Christiane Klapisch-Zuber, os quais, ao investigarem as mulheres medievais, acabaram por saber mais sobre os homens daquela época, uma vez que eram eles que construíam a narrativa sobre o sexo oposto. Susani Silveira Lemos França acrescenta, porém, uma complexidade nesse entendimento: o que o discurso dos homens cristãos pôde revelar quando tratou das mulheres de terras remotas? A partir de contraposições e paralelos, surge assim uma narrativa que explora os significados dos relatos construídos pelos viajantes sobre mulheres que, embora não lhes fossem próximas, eram descritas a partir do conhecimento daquelas de suas terras. Os relatos analisados cobrem um amplo espectro geográfico – da China ao norte da África, por exemplo – e temporal, mas o que se investiga neles não são suas dessemelhanças, e sim aquilo que os unifica, sua constância: o referencial da mesma fé cristã. Daí que, em Mulheres dos outros, a singularidade de cada relato de viagem importe menos que as recorrências, pois estas compõem uma narrativa dos valores partilhados e das fórmulas bem aceitas no fim da Idade Média.
Susani Silveira Lemos França é professora livre-docente em História Medieval da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Unesp e doutora em Cultura Portuguesa pela Universidade de Lisboa (1998). Entre outras obras, publicou Questões que incomodam o historiador(2013) e Viagens de Jean de Mandeville(2007).
Se a idade de ouro nunca existiu – a não ser na imaginação – nem se avizinha, por que a felicidade é, mais que nunca, uma exigência massacrante? E o que buscar neste início de século, quando as referências se desmembram e a existência perde o sentido? Eis uma obra que revisita – desde a Antiguidade até os tempos correntes – a história da procura por essa felicidade. Nunca conquistada, mas exaustivamente procurada.
Desde que existe, o homem prevê, afirma o historiador francês. Apesar de universal, a predição adquire diferentes formas ao longo da história da humanidade, passando por adivinhações, profecias, astrologias, utopias e futurologias. Ela não é neutra ou passiva. Corresponde a uma intenção, um desejo ou um temor. Sua importância não é a exatidão, mas seu papel de terapia social ou individual e o reflexo no presente. Nesse sentido, a revela a mentalidade e a cultura de uma sociedade. Ao fazer sua história, o autor busca contribuir para a história das civilizações, analisando seus desdobramentos na religião e na política.
Neste livro, Jean-Pierre Vernant investiga como os gregos procuravam representar o divino. Centrando-se especialmente nas representações de Ártemis, da Górgona e de Dioniso, busca chaves para decifrar o enigma que parece uni-las. Pelo viés da antropologia histórica, revelam-se as dimensões religiosas, culturais, políticas e sociais que envolvem e permeiam essa simbologia, indispensáveis para compreender o papel particular que essas divindades desempenhavam na vida dos antigos gregos.
O vampiro faz parte da história desconhecida da humanidade, ele tem um papel e uma função; não brotou do nada no século XVII ou XVIII! Ele se inscreve num conjunto complexo de representações da morte e da vida, que sobreviveu até nossos dias, certamente com uma riqueza bem menor do que naquele passado distante que temos tendência a confundir com séculos de obscurantismo, aquelas épocas remotas e ignorantes que baniram as Luzes da razão. Apoiando-se em testemunhos de primeira mão, o objetivo desse livro é fazer um trabalho de desmistificação, encontrar o objeto de uma crença ancestral e descobrir o contexto mental em que se arraigou a noção de vampiro, porque essa ancoragem no real é o que há de mais importante, nem que seja apenas por sua dimensão antropológica.
Em meio à polêmica causada pelo ensaio Em defesa das mulheres, que integra o Teatro crítico universal, obra de caráter enciclopédico do filósofo beneditino Jerónimo Feijoo y Montenegro, surgiram na misógina Espanha do século XVIII um sem número de livros e artigos contra e a favor das mulheres. Entre estas últimas publicações merece destaque esta obra, de Juan Bautista Cubíe, publicada em Madri em 1768, a qual permaneceu por gerações como uma síntese da memória da contenda. Cubíe, um erudito, criticava os preconceitos e as maledicências contra as mulheres, com base em conhecimentos de história e filosofia antigas, além de textos bíblicos, ressaltando que sua defesa não implicava um ataque aos homens. Para comprovar seus argumentos, ele arrolou, na última parte do livro, um repertório biográfico de mulheres ibéricas que se destacaram nas letras, ciências e armas.