Percursos e descaminhos de uma identidade étnica (1880-1950)
Italianidade no interior paulista – Percursos e descaminhos de uma identidade étnica (1880-1950) chega ao público como importante referência no campo dos estudos migratórios. Resultado de longa pesquisa, investiga não apenas a chegada de imigrantes italianos às lavouras cafeeiras, mas também o processo de constituição do sentimento de “italianidade” que se completou em terras brasileiras.
Oswaldo M. S. Truzzi é graduado em Engenharia de Produção (USP), mestre em Administração de Empresas (FGV-SP), doutor em Ciências Sociais (Unicamp) e realizou estágios de pós-doutorado na Universidade de Chicago. É professor associado da UFSCar, onde atua nos Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais e Engenharia de Produção. É autor, pela Editora Unesp, de Patrícios – sírios e libaneses em São Paulo (2ª edição, 2009); e coautor de Atlas da imigração internacional, 1850-1950; Repertório de legislação brasileira e paulista referente à imigração e Roteiro de fontes sobre a imigração em São Paulo, 1850-1950 (publicados pela Editora Unesp em 2008).
A publicação deste pioneiro Atlas da Imigração Internacional em São Paulo, 1850-1950, coloca nas mãos dos pesquisadores do tema uma ferramenta de trabalho de grande importância. Historiadores, antropólogos, sociólogos, geógrafos, demógrafos, economistas nele encontrarão um amplo mapeamento do cenário populacional paulista a partir da proibição do tráfico negreiro e do começo do fim da escravidão, em 1850. Particularmente, os dados sobre a imigração estrangeira e a distribuição espacial dos imigrantes definem um panorama muito expressivo de uma mudança demográfica, que foi também mudança social, cultural, econômica e política.
Este livro procura identificar o mais profundamente possível a documentação relativa às várias etapas do processo migratório. Tarefa quase sempre bastante difícil, uma vez que os instrumentos de pesquisa disponíveis nas diversas instituições visitadas são, via de regra, incompletos, desatualizados e imprecisos. Se alguns conjuntos documentais eram visivelmente relacionados ao tema, outros, no entanto, foram objeto de intensa consulta, com o fim de detectar seu interesse para a questão da imigração. Isso significou, portanto, que foi preciso requisitar e consultar uma enorme quantidade de caixas e volumes de documentação, que foram minuciosamente avaliados pela equipe do projeto. Apontamos para a existência de acervos que, de maneira geral, jamais se consultou de modo exaustivo, em busca do imigrante. É o caso, de todos os registros eleitorais da República Velha, através do qual se permite vislumbrar, de maneira bastante instigante, o processo de inserção social do imigrante na comunidade onde veio a residir.
Este repertório surgiu da constatação de que a legislação referente à imigração não se encontrava sistematizada e facilmente disponível aos pesquisadores interessados no estudo da imigração internacional no Estado de São Paulo no período de 1850 a 1950.
O autor estuda diversos aspectos da vida de sírios e libaneses e seus descendentes, que ainda hoje muitas vezes chamam a si mesmos de "patrícios". Um ponto em comum está na preferência por permanecer no universo urbano, trabalhando como comerciantes autônomos, principalmente em ruas do centro da capital paulista, em pequenas lojas, armazéns, casas de atacado, fábricas de fundo de quintal, residências, cortiços e pensões. O livro apresenta a trajetória social percorrida por essa colônia, formada pelos imigrantes e seus descendentes, entre as décadas de 1890 e 1960, com exceção de um capítulo sobre mulçumanos árabes, cuja referência é mais atual. Pela própria característica da metrópole paulistana de receber grupos étnicos variados que interagem entre si, a obra enfoca as adaptações e as inter-relações provenientes da vinda e da convivência dos "patrícios" com imigrantes de outra nacionalidades e brasileiros de várias origens que moram na cidade.
A contribuição da Itália e dos italianos ao campo da fotografia, desde sua gênese remota nas experimentações de Leonardo da Vinci e Giambattista della Porta até seu pleno florescimento, foi crucial e ampla. No Brasil da segunda metade do século XIX, em particular, tal protagonismo se confirmou e os italianos foram verdadeiros pioneiros da oitava arte. Engenheiros, exploradores, comerciantes, artistas plásticos, projecionistas, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, da Paraíba ao Rio de Janeiro, da Bahia ao Pantanal, os fotógrafos-migrantes vindos da Itália distinguiram-se pelo talento artístico ímpar e pela qualidade técnica de suas obras. O olhar desses precursores não se circunscreveu apenas ao retrato do mundo novo que então se descortinava, mas participou decisivamente da definição da imagem e da autoimagem deste país gigantesco e multifacetado.