Enquanto se liquefaz o conceito de literatura, confundindo-se até mesmo os limites de seus últimos avatares, retornam, em compensação, as discussões sobre os gêneros, que pareciam estar mortas e enterradas. Isto porque os gêneros, que dizem respeito às propriedades essenciais do discurso, transcendem a própria separação histórica e cultural entre aquilo a que se chama literatura e aquilo que estaria alheio às funções poéticas da linguagem. Neste livro, Todorov contribui de maneira substantiva para trazer à tona esse debate, colocando-o de volta à ordem do dia nos estudos literários e semióticos.
Nascido na Bulgária, em 1939, Tzvetan Todorov radicou-se na França em 1963. Filósofo, historiador, crítico literário, é autor de dezenas de obras. Sua trajetória intelectual é permeada pela multiplicidade temática. Inscreve-se entre os expoentes surgidos no século XX no campo das ciências humanas. Faleceu em 2017, em Paris. De sua obra, a Editora Unesp já publicou Teoria da literatura: textos dos formalistas russos (2013), Simbolismo e interpretação (2014), A vida em comum: ensaio de Antropologia geral (2014), Teorias do símbolo (2014), Crítica da crítica (2015), Diante do extremo (2017), Os gêneros do discurso (2018), Poética da prosa (2019), Relatos astecas da conquista (organização, em parceria com Georges Baudot, 2019) e Deveres e deleites (2019).
Diz-se que o homem é um ser social. Mas o que exatamente significa essa frase? Quais as consequências desta observação aparentemente banal, que não há um eu sem um você? O ser humano estaria condenado à incompletude? Neste livro não há, como avisa o autor, um discurso fechado em certezas ou verdades absolutas, mas um amplo vasculhar sobre a questão.
“Não tento decidir sobre o que é um símbolo, o que é uma alegoria, nem como encontrar a boa interpretação, mas compreender, e se possível manter, o complexo e o plural.” É assim que Todorov demarca sua ambição neste livro, no qual, para falar do fenômeno da simbólica da linguagem, percorre disciplinas como a lógica, a poética, a retórica e a hermenêutica, em espaços e temporalidades diferentes, como a antiga tradição hindu, ou a exegese patrística e a filologia. Os exemplos textuais de que se vale são também variados, passando por Tolstoi, São João da Cruz, Maeterlinck, Henry James, Flaubert, Baudelaire, Rimbaud, Nerval e Kafka. Obra esclarecedora, que estabelece de forma precisa os diálogos entre esses vários estudos, entrelaçando os campos da produção e da recepção do simbólico na linguagem.
Segundo Jakobson, “o ‘formalismo’, etiqueta vaga e desconcertante que os difamadores lançaram para estigmatizar toda análise da função poética da linguagem, criou a miragem de um dogma uniforme e consumado”. O presente livro traz a público as traduções feitas por Todorov de ensaios dos principais integrantes da chamada escola “formalista” russa, para que os leitores possam tecer suas próprias análises a respeito dessa vertente analítica.
O leitor deve estar curioso sobre o que esperar do último livro escrito por Jacques Le Goff, falecido em 2014. A resposta mais simples seria “coerência”. Sem se desviar da visão historiográfica que marcou sua longa e prolífica carreira, especialmente como medievalista, o autor já planteia no título do livro a pergunta-mote de sua reflexão central nesta obra, a respeito da necessidade de estabelecer “períodos”, “partes”, “pedaços” ou “fatias” da História para que seja possível identificar e tentar compreender as continuidades e rupturas que marcaram a trajetória da humanidade.
Teorias do símbolo não é uma “história da semiótica”. Embora, sem dúvida, trate desse tema, este livro aborda, antes, um conjunto de disciplinas que no passado dividiram o terreno do signo e do símbolo: a semântica, a lógica, a retórica, a hermenêutica, a estética, a filosofia, a etnologia, a psicanálise e a poética.