Em uma região conturbasda desde tempos imemoriais, o Irã da segunda metade do século XX honra a tradição e abriga situação explosiva: uma monarquia, autointitulada herdeira dos vetustos imperadores persas, debate-se, espremida entre a autocracia, a corrupção e os anseios modernizadores. Completando o quadro dramático, a presença crescente do fundamentalismo islâmico e a não disfarçada intervenção das potências ocidentais – sempre obcecadas pelas enormes reservas petrolíferas do país – acarretam a tensão geopolítica prenunciadora de típicos cenários contemporâneos. A "revolução dos aiatolás" é, assim, exemplar. Mais do que conflito localizado, é fruto das variáveis definidoras de nossa época e expõe os perigos e os desafios que enfrentamos.
Osvaldo Coggiola é um historiador argentino, residente no Brasil. Nascido em Buenos Aires, cresceu em Córdoba, onde estudou economia e história. Em 1976, por seu ativismo político, foi expulso da Universidade de Córdoba, passando a viver exilado até o final da ditadura argentina.
A Revolução no México e suas figuras exponenciais, como Emiliano Zapata, têm destaque no imaginário popular. Sua longevidade e a popularidade de seus ideais expõem circunstâncias históricas distintivas que definem a trajetória do país desde finais do século XIX. Mas a pujança dos anseios igualitários que se entrelaçavam com esses movimentos transcende fronteiras e ainda hoje inspira o mundo. Tão viva quanto a memória revolucionária mexicana é o reconhecimento de sua relevância e complexidade e a intensa disputa interpretativa que enseja.
As peculiaridades da Revolução Boliviana são marcantes e refletem as características específicas – étnicas, econômicas e políticas – que distinguiram a dinâmica do país desde os tempos da colonização espanhola. Seria por isso simplista inseri-la despreocupadamente na mesma classe de conflitos e movimentos sociais que agitaram as nações vizinhas durante o mesmo período. A compreensão das particularidades da insurreição de massas de 1952 na Bolívia não apenas permite fazer justiça a facetas importantes da história do subcontinente americano, mas fornece elementos cruciais para explicar a tensão endêmica que se arrasta até os dias de hoje e se reflete no critico panorama político e social enfrentado pelo governo de Evo Morales.
O ideal de uma república, "o verdadeiro Peru", fiel a valores igualitários desrespeitados desde a emancipação ante a Coroa espanhola, foi sistematicamente abraçado pelas correntes libertárias peruanas, de Mariátegui e González Prada à atuação do Sendero Luminoso; um país que reconhecesse não apenas a impressionante herança histórica e cultural dos incas, mas que se emancipasse do elitismo crioulo, responsável pela marginalização da esmagadora maioria da população, particularmente de seus segmentos rural e indígena. Praticamente sem hiatos, a luta pela concretização desse sonho atravessa a história peruana, da independência, em 1821, até nossos dias. A Revolução Peruana traça justamente essa trajetória, expondo o que há nela de peculiar e o que a aproxima das tensões e dos dramas presentes em todo o subcontinente.
Ícone das guerras de independência contemporâneas, a luta argelina contra o domínio francês foi das mais sangrentas do século, alcançando a cifra assombrosa de centenas de milhares de mortos. Mas os desafios que se apresentam ao modelo socialista da FLN não se esgotam com a derrota da potência colonial. As complexidades dessa nação – que empedernidamente sustentou seu não alinhamento durante a Guerra Fria, alcançou pluralismo político ímpar na região, enfrentou as instabilidades de uma economia alicerçada no petróleo e que hoje se depara com a crescente e agressiva presença do fundamentalismo islâmico – impõem encruzilhadas dramáticas para uma Argélia que ainda se constrói.
Por mais de cinquenta anos, a trajetoria da experiência revolucionária em Cuba abrigou personalidades marcantes, como Che Guevara, e acontecimentos dramáticos, como a Crise dos Mísseis. Todos esses icones históricos do século XX entrecruzam-se com a profunda reestruturação interna da economia e sociedade cubanas e o associado desafio à antes incontrastada hegemonia dos Estados Unidos sobre a América Latina. A complexidade desses elementos não deve ser menosprezada e, em si, é uma explicação para as paixões e a batalha interpretativa ainda hoje evocadas por essa evolução caribenha.