Do ideal socialista ao socialismo real
A obra do cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira apresenta vários aspectos realmente inéditos do processo que culminou com a queda dos regimes comunistas no Leste Europeu, a derrubada do Muro de Berlim e a desintegração do chamado Bloco Socialista. Um desses aspectos é a participação do KGB, o serviço secreto soviético, com a colaboração dirigentes do Stasi, o serviço de inteligência da RDA, na derrubada de Erich Honecker. Essa e outras informações sobre as lutas internas entre os dirigentes da extinta República Democrática Alemã, antes e depois da demolição do Muro de Berlim, foram obtidas em entrevistas feitas diretamente com Egon Krenz, o sucessor de Honecker, Hans Modrow e Lothar de Maizière que foram primeiros-ministros entre a demolição do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha, e com Günter Schabowski, membro do Politburo do SED. Também Vernon Walter, embaixador dos EUA em Bonn, deu o seu depoimento. Todos esses homens desempenharam o mais relevante papel nos acontecimentos, e suas entrevistas, concedidas em janeiro/fevereiro de 1991, permitiram que o autor reconstruísse a história e desvelasse a trama que ocorreu nos bastidores da RDA, antes e depois da abertura do Muro.
Luiz Alberto Moniz Bandeira é formado em Direito, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professor titular de história da política exterior do Brasil, no Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) (aposentado). Tem o título de Doutor Honoris Causa outorgado pelas Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, do Paraná, bem como pela Universidade Federal da Bahia. E, em 2006, a União Brasileira de Escritores (UBE) elegeu-o, por aclamação, Intelectual do Ano de 2005, conferindo-lhe o Troféu Juca Pato, por sua obra Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque). é autor de mais de 20 obras, entre as quais Presença dos Estados Unidos no Brasil (Dois Séculos de História), e O Governo João Goulart – As lutas sociais no Brasil (1961-1964), que foram best-seller;O Feudo – A Casa da Torre de Garcia d’Ávila (Da conquista dos sertões à independência do Brasil); De Martí a Fidel (A revolução cubana e a América Latina); Fórmula para o caos – A derrubada de Salvador Allende (1970-1973); e A Reunificação da Alemanha – do Ideal socialista ao “socialismo real”, cuja 3ª edição foi lançada pela Editora UNESP. Algumas de suas obras foram traduzidas e publicadas na Rússia, Alemanha, Argentina, Chile, Portugal e Cuba. E Formação do Império Americano, traduzida para o mandarim, será lançada na China, possivelmente ainda em 2010. Luiz Alberto Moniz Bandeira foi professor visitante nas Universidades de Heidelberg, Colônia, Estocolmo, Buenos Aires, Nacional de Córdoba (Argentina) e Técnica de Lisboa, entre outras, e também conferencista em diversas universidades, no Brasil e em vários países, na América do Sul, Europa e Estados Unidos. É Grande Oficial da Ordem de Rio Branco (Brasil); comendador da Ordem do Mérito Cultural (Brasil); comendador da Ordem de Mayo (Argentina) e condecorado com a Cruz da República Federal da Alemanha, 1ª Classe (Das Verdienstkreuz – 1 Klasse – Das Verdienstorden der Budesrepublik Deutschland). E, há mais de quatorze anos reside na Alemanha, onde foi encarregado do setor cultural no Consulado-Geral do Brasil, em Frankfurt/Main (1996-2002), e atualmente exerce a função de cônsul-honorário em Heidelberg, com jurisdição sobre o distrito governamental de Karlsruhe, norte de Baden-Württemberg.
Numa época em que vários setores da esquerda e a máquina de propaganda dos que se assenhorearam do poder em 1° de abril de 1964 acusavam João Goulart de populista, fraco, inclusive por não haver resistido ao golpe militar, Luiz Alberto Moniz Bandeira, durante a ditadura militar, ousou e buscou restabelecer a verdade histórica, analisando seu governo e os fatores de sua derrubada. João Goulart não foi populista, não era demagogo; o PTB, escorado nos sindicatos, desempenhara empiricamente um papel similar ao dos partidos social-democratas na Europa; o golpe militar em 1964, com o apoio dos Estados Unidos, constituiu um episódio da luta de classes; o cabo Anselmo trabalhava para a CIA, em conexão com o Cenimar (Centro de Informações da Marinha); o motim dos marinheiros foi uma provocação, visando a unir as Forças Armadas contra o governo; e Goulart não teve condições de resistir, por não mais contar com o respaldo da maior parte das Forças Armadas e saber que os Estados Unidos se dispunham a intervir militarmente e dividir o Brasil, no caso de uma guerra civil. Se Goulart fosse fraco, cederia à pressão dos generais e dos Estados Unidos, fechando o CGT, reprimindo os sindicatos e demitindo do governo os elementos de esquerda, e o golpe militar não teria ocorrido.
Em O ‘milagre alemão’ e o desenvolvimento do Brasil, Luiz Alberto Moniz Bandeira demonstra como a emergência da Alemanha, como potência industrial, possibilitou ao Brasil maior capacidade de negociação vis-à-vis dos Estados Unidos, na medida em que constituiu não só uma opção de comércio, mas, igualmente, uma fonte de investimentos e de tecnologia. Apesar de devastada na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental logo se recuperou e, em pleno boom econômico, destinou, de 1952 até o curso dos anos 1960, a maior parte de seus investimentos ao Brasil, porque não podia fazê-lo nos países comunistas do Leste Europeu e temia uma guerra atômica na Europa.
Passados mais de 500 anos desde a famosa viagem de Cristóvão Colombo, ainda se conserva no imaginário da maioria da população a ideia de que nosso continente fora descoberto. Esta obra é trabalho historiográfico da melhor linhagem e, ao mesmo tempo, um esforço bem logrado de interpretação e crítica. O autor questiona e desconstrói o conceito “descobrimento” e, em seu lugar, propõe “invenção”.
O início do século XX presenciou vaga aparentemente incontrastável de mudanças sociais. De 1918 a 1923, na esteira dessa tendência, conflitos internos na Alemanhã recém-egressa da Primeira Guerra Mundial pareciam anunciar o advento do primeiro regime socialista entre países do Ociden te industrializado. As forças conservadoras, entretanto, saíram-se vitoriosas. Por quê?
Segundo as palavras de Salvador Allende: “milhões de pessoas no mundo querem o socialismo, mas não querem ter de enfrentar a tragédia da guerra civil para consegui-lo”. A resposta do próprio Allende e do povo chileno a esse anseio foi consubstanciada pela experiência democrática socialista inaugurada em 1971. Jornada ainda hoje paradigmática na evidenciação dos limites da democracia liberal, os três conturbados anos do governo liderado pela Unidade Popular, levaram à tragédia épica de setembro de 1973 e à subsequente violência e ao obscurantismo da ditadura militar. Esta jornada heroica, mas frustrada, alerta para as dificuldades e complexidades com que se defronta a concretização conjunta dos ideais clássicos da liberdade e da justiça social igualitária.