A performatividade do gênero feminino no teatro contemporâneo – cruzamentos entre processos criativos das mulheres, cena e gênero
Esta obra analisa a criação teatral contemporânea das mulheres e questiona a caracterização dessa produção a partir do recorte de gênero feminino. A partir dos termos teatro feminino, teatro da mulher e teatro feminista, Lúcia Romano aponta as implicações deles na crítica e na prática teatrais, na cena nacional e internacional, e a necessidade de revisão dessa terminologia. A autora ressalta a atual multiplicidade de estratégias e poéticas particulares do teatro feito por mulheres, em especial, nas atuações de algumas performers, das atrizes criadoras integrantes do OdinTeatret e da rede internacional Magdalena Project. Observa ainda o progresso do teatro feminista internacional, nas criações dos teatros lésbico, feminista negro e multicultural.
Para iluminar o complexo cruzamento entre corporeidade, processos criativos e subjetivação, a autora propõe a constituição de imagens encarnadas, em que a consciência de gênero gera corporeidades específicas na cena, e a análise do corpo sexuado, no processo de comunicação teatral.
Por fim, projeta um teatro do andrógino, afeito à subversão de concepções binárias e capaz de encorpar a instabilidade das performances de gênero.
Lúcia Regina Vieira Romano é bacharel (1991)em Teoria do Teatro pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), mestre(2002) em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutora (2009) pela ECA. Tem experiência nas áreas de Teatro, Performance e Dança, com ênfase em interpretação teatral, corporeidade, estudos de gênero, feminismo e processos de criação. É docente na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Artes no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Atriz fundadora dos grupos Barca de Dionisos e Teatro da Vertigem, atua hoje como intérprete e produtora na Companhia Livre de Teatro.
Neste livro, Gustavo Alfaix se dedica ao estudo do universo estético do compositor alemão Karlheinz Stockhausen, um dos artistas mais relevantes da segunda metade do século XX, concentrando-se nas suas criações da década de 1950. Esse recorte temporal foi estabelecido justamente por colocar em foco a época áurea da música serial, período no qual se podem encontrar as raízes de boa parte das perspectivas que, nos anos seguintes, levariam à formação das diversas escolas estéticas que compõem o rico cenário da música atual. Com análises detalhadas e reproduções de trechos de partituras de Stockhausen, bem como dos escritos conceituais do compositor e de outros importantes musicólogos, Alfaix investiga os principais conceitos e estratégias composicionais elaborados por Stockhausen ao longo de sua carreira. O texto também lança luz na articulação entre o desenvolvimento do pensamento teórico do compositor e sua materialização na forma de obras musicais, além de observar a relação entre o processo criativo do artista e sua biografia, com atenção sobre as personalidades que o influenciaram e contribuíram para a consolidação de sua poética musical.
Paulo Andrade analisa nesta obra os procedimentos técnicos, temas e motivos construídos pelo poeta Sebastião Uchoa Leite para refletir sobre seu projeto poético e seu sujeito lírico. O estudo focaliza uma produção poética submetida a certa tensão, por desvios e aproximações, tanto com a tradição moderna quanto com as propostas modernistas, o que impossibilita demarcar limites para classificá-la. O grande mérito do autor é precisamente situar a obra de Uchoa nesse contexto específico.
Andrade mostra que Uchoa não concebe o modernismo como força propulsora, mas como forma. O poeta não descarta as conquistas de 1922 e das décadas seguintes, no entanto, empenha-se em transgredi-las, contaminando-as com referências de toda ordem, seja da alta cultura, seja de elementos líricos retomados de tradições mais antigas, como a obra de François Villon, seja da cultura de massa ou de linguagens as mais diversas. Adepto do modernismo, Uchoa centra-se no contexto de seu tempo, e utiliza-se de uma linguagem concisa para expressar as preocupações em relação à cultura contemporânea.
A análise de Andrade traz à tona um poeta que alia pensamento e poesia e, fortemente crítico à realidade, coloca-se em permanente desconfiança em relação ao mundo, ao outro e a si próprio. No percurso o estudo também aborda outros temas e procedimentos afins para articular a questão central, como o humor, a ironia, a autoironia e a difícil relação entre a retomada e a transgressão de certa tradição moderna, que faz de Uchoa um herdeiro singular de Paul Valéry, T. S. Eliot, João Cabral, Carlos Drummond, Manuel Bandeira e dos poetas concretistas.
O influente livro de Carlson é uma exposição das teorias sobre o teatro ocidental, dos gregos aos contemporâneos. Dentro desta estrutura, e sem perder de vista o fundamental objetivo didático, o autor procura dar a palavra, sempre que possível, a cada crítico, dramaturgo ou teórico importante do teatro ocidental. Desta maneira, é montado um excelente roteiro de pesquisa bibliográfica apropriadamente complementado por um comentário relevante e judicioso.
Resultado de uma tese de doutorado apresentada na Faculdade de Educação da USP, sob orientação da docente Maria Thereza Fraga Rocco, esta pesquisa compreende a produção de linguagem constituída pelas artes plásticas como uma manifestação teatral em sua mais pura potencialidade. Aproxima artes plásticas e teatro, entendendo-os como um reflexo da relação que o homem mantém com seu tempo e seu espaço.
Dentre o conjunto de edições do Festival de Inverno de Campos de Jordão, tradicionalmente dedicado à música erudita e à formação de jovens concertistas, a edição de 1983 destacou-se como “dissonância” e particularizou-se por ter sido dedicada a professores de Educação Artística da rede pública de ensino do estado de São Paulo. Em quarenta anos de vida dos festivais, sua décima quarta versão – organizada por Cláudia Toni, Ana Mae Barbosa e Gláucia Amaral – foi singular pela concepção, pela programação e pela relação com o entorno político e educacional de sua época. Por meio do programa do festival, dos discursos de professores nele proferidos, de textos de jornais, cartas e relatos e de imagens, Rita Bredariolli dedica-se à análise dessa edição do festival e faz uma avaliação da importância do programa pedagógico e da concepção de ensino de arte enunciados no XIV Festival de Inverno de Campos de Jordão.