Este livro, ao relacionar as fábulas dos poemas de Guillaume Apollinaire (1880-1918) à sua lírica, mostra como a repetição de temas e os compromissos estéticos, culturais e ideológicos do artista mantêm-se voltados para a escrita de uma poesia que ele considerava eterna. "Em uma época na qual a poesia é freqüentemente prisioneira dos sistemas e das teorias, Apollinaire soube simplesmente ser poeta. Simplesmente, mas totalmente: sem recusar nada do que o mundo lhe oferece, unindo em um mesmo abraço o espetáculo da vida, a experiência pessoal e a cultura, acolhendo todas as formas da expressão poética, sensível a todos os apelos estéticos de seu tempo, salvaguardando, com um sotaque inimitável, a pureza de sua inspiração no âmago das múltiplas solicitações."
Silvana Vieira da Silva Amorim é professora de língua e literatura francesa na Unesp de Araraquara (SP). Suas pesquisas centram-se em poesia francesa do século 20, literatura comparada e tradução. Tem vários artigos publicados em revistas especializadas.
Apesar de ter ganho o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras em 1937, Magma, de João Guimarães Rosa, ficou inédito, por vontade do autor, até 1997, quando foi publicado postumamente. Mesmo reconhecendo, como o próprio Rosa, o estatuto de obra menor dessa única incursão do magistral autor de Grande sertão: veredas no terreno da lírica, Maria Célia Leonel, professora da Unesp, câmpus de Araraquara, percebeu e pôs-se a estudar, de maneira cuidadosa e original, a importância dos poemas de Magma na germinação da prosa poética do ficcionista, sobretudo de Sagarana, sua primeira publicação.
Neste livro, as autoras objetivam mostrar determinadas possibilidades de abordagem do universo rosiano. Dividido em duas partes, denominadas “Estudos comparativos” e “Aspectos da narrativa rosiana”, o livro reflete a perspectiva de leitura das autoras sobre a obra de Guimarães Rosa. Nos textos, estão as marcas do apoio de teóricos, como Roman Jakobson, Gérard Genette, Ernst Cassirer, Louis Hjelmslev, Algirdas Julien Greimas, entre outros, além de ensaios críticos sobre o escritor.
O autor mergulha no clássico Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, para mostrar os mecanismos lingüísticos que relacionam o discurso verbal ao plástico, chegando a concepções sobre o pensamento estético de Proust, que podem ser ampliadas para o questionamento sobre a atividade artística, em suas mais variadas formas de expressão. Realiza um paralelismo entre diferentes sistemas lingüísticos, especialmente entre literatura e pintura, gerando uma ampla discussão sobre os elementos fundamentais proustianos. Mostra como o discurso se vale da palavra para romper os limites do dizível e permite uma visão da capacidade de Proust de entrelaçar intelectualismo e impressionismo, o que lhe possibilitou atingir os mais delicados matizes em sua reprodução de estados sensoriais e espirituais.
Os sistemas clássicos limitavam-se geralmente a registrar a dicotomia artificial das artes do espaço e das artes do tempo. A classificação tradicional das artes opõe as três artes plásticas (arquitetura, pintura e escultura) às três artes rítmicas (dança, música e poesia). Uma das grandes descobertas de Etienne Souriau, segundo Huisman, consistiu na crítica da oposição entre o plástico e o rítmico. Com efeito, ele mostrou como as artes plásticas comportam igualmente um tempo essencial, como as artes ditas do tempo, e que as artes rítmicas são tão espaciais como as ditas do espaço.
Kiernan dedica à obra shakespeariana uma análise distinta daquela que caracteriza a maior parte dos comentários publicados. Segundo ele, trata-se de associar Shakespeare "ao ambiente em que o poeta respirou". Kiernan mostra como os feitos dramáticos e poéticos do dramaturgo inglês não transcenderam seu meio, mas, ao contrário, foram diretamente influenciados pela sua consciência cívica e por sua reação crítica às mudanças então ocorrentes na sociedade.