Rousseau juiz de Jean-Jacques: Diálogos é, a uma só vez, expressão autobiográfica do autor e exercício de defesa dos seus princípios filosóficos. A fórmula que anima a escrita dos Diálogos é enunciada pelo próprio Rousseau: “era preciso necessariamente que eu dissesse com que olhos, se eu fosse um outro, veria um homem tal como sou”. Ao mergulhar nos labirintos das relações humanas que os interlocutores postos em cena esmiúçam no caso das censuras sofridas por Rousseau, somos deslocados para uma experiência do pensamento na qual nosso próprio eu torna-se objeto de arguição perante a justiça – e a injustiça – da opinião pública. Esta é a primeira tradução integral desta obra no Brasil.
Escritor, filósofo e músico genebrino, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é uma das grandes figuras do chamado Século das Luzes. Suas obras – entre elas, o Discurso sobre as ciências e as artes, o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, a Nova Heloísa, Do Contrato Social e Emílio – obtiveram logo enorme sucesso e desde então vêm motivando leituras apaixonadas de entusiastas e críticos nos séculos que o sucederam. De sua autoria, a Editora Unesp já publicou Cartas escritas da montanha (2006), Textos autobiográficos e outros escritos (2009), Dicionário de música (2021), Emílio ou Da educação (2022), Rousseau juiz de Jean-Jacques: Diálogos (2022) e Devaneios do caminhante solitário (2022).
Cartas escritas da montanha constitui momento alto da produção rousseauniana madura. Traduzida pela primeira vez em língua portuguesa, a obra revela a indignação de Rousseau às condenações que sofreram suas duas obras fundamentais, O contrato social e Emílio. Neste trabalho o filósofo genebrino discute as teses básicas, religiosas e políticas, de seus escritos anteriores e lhe dá a oportunidade de refletir sobre as instituições de sua cidade de origem.
Os textos autobiográficos de Jean-Jacques Rousseau, escalonados entre 1755 e 1776, formam um esclarecedor complemento às grandes obras do autor, da Nova Heloisa aos inacabados Devaneios do caminhante solitário. Eles são um fio condutor da obra de Rousseau. Partindo de uma irritação crescente contra seu século, ele concluirá que a sabedoria deverá ser, agora, solidão criadora.
Este livro é representativo da posição de relevo que a música ocupa na vida – e na obra – de Rousseau, seja em escritos teóricos ou na composição de obras musicais, que lhe renderam certo prestígio na corte de Luís XV. Amante da música antes de ser filósofo, Rousseau recebera como encomenda de Diderot e d'Alembert para a Enciclopédia, em 1749, artigos sobre o tema. O presente Dicionário tem como experiência seminal a redação daqueles artigos. Os verbetes que o constituem, resultado de anos de aperfeiçoamento após a experiência anterior, também refletem preocupações enciclopédicas e filosóficas de Rousseau, bem como reflexões críticas, demarcações de gosto e o posicionamento público sobre sua ideia do que deveria ser a boa música.
Os textos que constituem este livro transitam entre o registro da literatura e o do discurso filosófico. Ao longo de dez caminhadas, Rousseau medita sobre passagens seu percurso de vida. Estuda os sentimentos que vivenciou, sempre procurando, a cada episódio narrado, reconstituir em seu espírito a felicidade outrora experimentada, presente até mesmo em momentos difíceis. Nesse riquíssimo mapa de memórias, a trilha de seus devaneios entrelaça-se com temas que singularizam sua trajetória, como a solidão, o envelhecimento, a mentira, seu trabalho intelectual, sua relação com a natureza – com destaque para a paixão pela botânica –, além do polêmico tema do complô, abordado de forma dramática em outro escrito autobiográfico, "Rousseau juiz de Jean-Jacques: Diálogos".
Prêmio Abeu 2023: 2º colocado na categoria Tradução Publicado em 1762, Emílio ou Da educação permanece inclassificável: diferindo tanto dos tratados filosóficos quanto dos manuais de pedagogia – com a possibilidade de ser ainda um romance pedagógico –, tornou-se objeto de diversas leituras, sendo possível considerá-la uma obra aberta. Este tratado sobre a natureza da educação e a natureza humana é considerado uma das mais importantes obras de Rousseau, e influenciou grandemente os revolucionários franceses na elaboração de um novo sistema de educação nacional. O livro é dividido em cinco partes: as três primeiras são dedicadas à criança Emílio, a quarta à adolescência, e a quinta a esboçar a educação da garota Sofia e à vida doméstica e cívica de Emílio.