A correspondência de Simón Bolívar (1799-1830)
Escrever cartas revela o desejo de registrar acontecimentos, racional e afetivamente, para não esquecê-los, para estabelecer uma memória de si e dos outros. Nesse sentido, Simón Bolívar lidou com sua correspondência de forma dedicada e delicada porque esteve entre seus objetivos oferecer à posteridade um personagem: o homem público irretocável, desprovido de vida privada. Neste livro, Fabiana de Souza Fredrigo empreende a releitura desse epistolário e propõe múltiplos sentidos narrativos constitutivos do que denomina "memória da indispensabilidade". No interior dessa memória, Fredrigo constata a presença do ressentimento e da solidão de Bolívar, transformados em elementos retóricos que, por sua vez, permitiram à autora demonstrar os limites em compreender a conformação de uma nova cena histórica e o apego ao ideal da liberdade desse ator histórico que venezuelanos e colombianos alcunham el Libertador.
Fabiana de Souza Fredrigo possui graduação (1994), mestrado (1997) e doutorado (2005) em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Atualmente é professora-adjunto da Universidade Federal de Goiás. Tem experiência na área de História, com ênfase nos seguintes temas: Chile, Simón Bolívar, literatura, memória e identidades.
Neste livro - apoiando-se em cartas escritas por grandes nomes da literatura brasileira, como as de Mário de Andrade a Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, as de Anita Malfatti, de Portinari, de Fernando Sabino e de tantos outros -, Maria Rosa de Camargo nos oferece um belo estudo sobre a prática epistolar de pessoas comuns que, em tese, não representariam lugares sociais de importância na história de uma nação. A autora faz uma bela análise sobre como essas pessoas percebem a "ideologia do cotidiano" e, muito além disso, registram "vestígios de sua versão do mundo e da cultura". Ao adentrar nas relações sociais e nas artimanhas da escrita de cartas pessoais, esta obra revela competência ao persuadir e envolver o leitor com uma análise que transita entre o fazer científico e a criação literária, oferecendo-nos um texto exemplar, valorado sobretudo por sua notável elegância e simplicidade.
Este trabalho estuda a evolução política da cidade de Santos. Mostra as condições e os mecanismos pelos quais essa cidade paulista se distingue das demais pelos seus anseios de autonomia e liberdade e por suas lutas em prol das transformações sociais. É destacado o papel das chamadas classes médias, aí mais comprometidas com os movimentos de esquerda, ao contrário da maioria dos centros urbanos do país.
Este livro faz uma introdução à história da escrita sob uma visão atualizada. São foco de atenção as origens, funções e mudanças cronológicas dos mais importantes sistemas de escrita do mundo, atuais e extintos. As dinâmicas sociais das escritas são assim abordadas em todo o seu fascínio.
Peter Burke debruça-se sobre um tema que, de tempos em tempos, torna-se especialmente candente: a migração humana. A história da humanidade confunde-se com a história das diásporas, catapultadas pela escassez, pela guerra e pela ambição. Afora os grandes movimentos migratórios, o deslocamento individual, ou de células familiares, permanece ativo diuturnamente no planeta. Em resposta, encontramos frequentes tentativas de se lacrar fronteiras, ao passo que, em outros momentos, fomenta-se a recepção. Entretanto, com os corpos humanos, migram as histórias e migram os intelectos; e o foco principal deste livro é justamente o impacto desses movimentos para a história do conhecimento.
“Que profissão eu deveria colocar em meu cartão de visitas: historiador, antropólogo, filósofo? Prefiro não escolher. Não me reconheço na filosofia pura, não domino bem essa postura, não fico à vontade no discurso inteiramente abstrato. A antropologia filosófica me convém melhor, mas ela não existe como disciplina autônoma. Historiador, talvez, com a condição de incluir no objeto da história a vida moral, a vida estética. Em certa época, eu dizia que queria buscar o ‘sentido moral’ da história.” Talvez Todorov seja um intelectual inclassificável. Segundo o próprio, talvez “humanista” seja o único rótulo que lhe caberia em qualquer época de sua vida como pesquisador e escritor. Neste livro, estão reunidas as entrevistas que ele concedeu a Catherine Portevin, nas quais lhe foi proposta a difícil tarefa de se debruçar sobre a própria obra e avaliar os elementos biográficos que teriam contribuído para suas escolhas intelectuais.