Política externa e a construção do Brasil
Tido como o responsável pela consolidação do território brasileiro, o Barão de Rio Branco conquistou em vida a aura de herói nacional. Sua morte, em 1912, levou o governo a declarar luto oficial e a adiar o Carnaval de fevereiro para abril. Esse episódio ímpar, que mistura política externa e festa popular, é o ponto de partida de Luís Cláudio Villafañe G. Santos que, nesta inteligente obra, discorre sobre as complexas relações entre Estado, território e poder político no Brasil.
Luís Cláudio Villafañe G. Santos é diplomata e graduou-se em Geografia, na Universidade de Brasília, e em diplomacia, no Instituto Rio Branco. Conta com curso de pós-graduação em Ciência Política pela New York University, além de mestrado e doutorado em História pela Universidade de Brasília. É pesquisador associado ao Instituto Rio Branco. Publicou, pela Editora Unesp, O Brasil entre a América e a Europa (2004) e O dia em que adiaram o Carnaval (2010). Em 2012 foi curador da exposição Rio Branco: 100 Anos de Memória, patrocinada pelo Ministério das Relações Exteriores e pela Fundação Alexandre de Gusmão.
Obra que, sem dúvida, fornece elementos para a definição da identidade brasileira e exibe os precedentes da crítica agenda estratégica e comercial do Brasil contemporâneo com a América e a Europa. Aborda a política do Império brasileiro ante os sucessivos encontros interamericanos realizados no século XIX, desde o primeiro, no Panamá, em 1826, até o de Washington, em 1889/1890 (chamado de Primeira Conferência Internacional Americana, convocada pelos Estados Unidos, já sob a bandeira do pan-americanismo) - o único do qual o Brasil participou. A política externa do Império somente se consolida a partir de 1850, quando posições nos principais temas da agenda brasileira passam a ser definidas por políticas coerentes. Isolado nas Américas como único defensor do princípio monárquico, o Estado brasileiro sente-se desvinculado dos países vizinhos na construção de um discurso legitimador para a constituição do que acreditava ser um bastião da civilização européia no continente.
José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão de Rio Branco, esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores entre 1902 e 1912, mantendo-se no cargo durante quatro diferentes presidências. O evangelho do Barão mostra o quanto essa figura histórica foi de extrema importância para a construção de uma identidade nacional, conquistada por meio da consolidação de uma política externa. A partir de uma cuidadosa pesquisa histórica, o autor contextualiza as ideias e as ações do Barão com o momento social e intelectual em que o país se encontrava, levando o leitor a compreender a dimensão de seu legado e o motivo pelo qual ele se tornou uma referência, tal como um evangelho.
Esta coletânea de ensaios foi organizada em comemoração ao centenário da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, de autoria de Olympe de Gouges, de 1791.
Este documento excepcional, reproduzido aqui na íntegra, contrapõe ao universalismo abstrato da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1779, a injustiça das condições concretas da mulher no terreno da cidadania.
Samba e identidade nacional investiga as raízes desse gênero musical tornado símbolo de um povo em meio ao projeto varguista de Estado nacional. Magno Bissoli Siqueira intercala referências a historiadores clássicos com análises detalhadas de partituras e gravações para mostrar como o samba, de marginalizado e proibido, transformou-se na música-símbolo do Brasil.
Vida e esperanças é um relato sobre a importância do reconhecimento na construção do cotidiano. Aborda a negação da fecundidade implicada na realização de esterilizações por mulheres de um bairro pobre urbano do Nordeste, compreendendo este evento como parte de uma busca ativa de reconhecimento de mulheres pobres enquanto pessoas num mundo repleto de controles, de violência, de emoções e de resistência. Acompanhando uma qualidade narrativa que desarma pela sua aparente simplicidade e evidente clareza, o leitor é transportado para a rede de amizades da autora onde convive com os tormentos da ambigüidade que não somente assolam as moradoras da periferia nas suas decisões sobre saúde reprodutiva e todo que isso representa para elas, mas também que assolam à própria pesquisadora social em busca de interpretações fidedignas ao que observara.