A autora investiga a cultura livresca dos príncipes de Avis (que reinaram em Portugal entre 1385 e 1580) e procura examinar as condições materiais e políticas da produção dos manuscritos principalmente durante o século XV, correspondente ao fim do Medievo, quando, apesar do prestígio ainda grande da memória viva, percebe-se um crescente apreço pelo livro, pela sua capacidade de diálogo com a oralidade e por seu já então perceptível potencial de ordenação e perpetuidade.
Naquele período, escrever e ler eram atos tidos como principalmente morais e éticos, não apenas em Portugal, mas em toda a Europa. Segundo a autora, a escrita é pensada como um instrumento de articulação entre o passado, o que esse passado deveria ter sido e o que ele deverá ser no futuro, ou seja, como uma organização dos saberes com um direcionamento para o futuro, visando ao mesmo tempo cada indivíduo e o todo social.
Os discursos são também eivados de compromissos de preservação dos costumes e de finalidades edificantes e prescritivas, pois, para os letrados quatrocentistas, escrever e ler não eram atos isentos de consequências, antes pelo contrário, eram considerados como atos que desencadeavam outros, sendo natural, assim, que a chamada “literatura cortesã” fosse simultaneamente filosófica, política e religiosa, com um forte componente educativo.
Michelle Souza e Silva possui graduação (2007) e mestrado (2009) em História pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Atualmente é doutoranda na mesma instituição.
O prodigioso desenvolvimento da ciência contemporânea nos faz supor que os fenômenos da natureza obedecem a leis determinantes da evolução. Mas essa imagem tem seus limites. Até os sistemas dinâmicos mais simples podem ser impreditíveis e apresentar uma evolução caótica. Mas qual a razão desse caos? A partir da noção de tempo, os autores oferecem respostas claras a essa questão e expõem os conhecimentos hoje disponíveis sobre o assunto em todas as áreas do conhecimento.
Os textos de Condillac reunidos neste volume, a Lógica à frente deles, são todos da fase derradeira de seu pensamento (1775-1780), quando o filósofo elaborou a síntese definitiva do tratamento das questões de que se ocupara desde sua estreia no mundo das letras filosóficas com o Ensaio sobre os conhecimentos humanos (1746), o qual desde o título traz a marca indelével do pensamento de Locke. Mais distantes desse escrito de juventude, entretanto clássico, os tratados da fase última se beneficiam das revisões da doutrina inicial, efetuadas pelo autor no Tratado das sensações (1754), e constituem assim uma excelente via de acesso a seu pensamento. Além da tradução integral da Lógica, o leitor encontrará aqui o Discurso preliminar dos cursos de estudos para a instrução do Príncipe de Parma e o Motivo das lições preliminares, o primeiro livro da Gramática e passagens substanciais do Dicionário de sinônimos e da Língua dos cálculos, este último certamente um dos livros mais desconcertantes surgidos na época das Luzes.
O caráter polêmico e a relevância da obra de David Hume são indisputáveis. Neste livro, discute-se a visão do filósofo sobre a teoria do conhecimento e da ciência, além de tópicos mais particulares, mas nem por isso menos cruciais, como sua crítica ao finalismo, sua relevância para a leitura de Freud e a tese humeana, retomada por Quine, da continuidade entre conhecimento comum e teórico.
Filosofia e lingüística interagem ao longo deste livro. Inicialmente, são analisados Teeteto e Crátilo, diálogos de Platão. Em seguida, o estudo recai sobre o Curso de lingüística geral, de Ferdinand de Saussure. Ensaístas como Deleuze, Nietzsche, Hegel, Marx, Husserl e Merleau-Ponty também são ponto de referência para discutir qual é e como funciona a relação entre as palavras e as coisas. A obra ensina, acima de tudo, a duvidar de respostas fáceis e prontas, pois considera a filosofia a ciência da dúvida por excelência.
Esta tradução da Metafísica do Belo, de Schopenhauer, compreende o conjunto de preleções lidas pelo filósofo em 1820, na Universidade de Berlim. A elas se juntam as preleções intituladas Teoria de toda a representação, pensamento e conhecimento; Metafísica da natureza; e Metafísica da estética. Mediante tais textos tem-se um acesso dos mais claros e didáticos ao pensamento do filósofo de Frankfurt, que já primava pela clareza expositiva, contra a corrente estilística germânica de sua época e seguindo a tradição britânica. As Preleções permanecem atuais não só pela investigação da essência íntima da beleza, mas também pela ressonância em diferentes autores, como Nietzsche, Freud e Machado de Assis. O filósofo eleva a arte a uma categoria suprema e reconhece, na contemplação desinteressada, uma forma de neutralizar momentaneamente o sofrimento existencial.