Quase quarenta anos depois de ter sido lançado pela primeira vez, Análise estrutural de romances brasileiros ainda tem muito a contribuir nos estudos de literatura. Além de permitir que os leitores ampliem conhecimentos sobre o Estruturalismo, esta nova edição traz um pujante debate entre o autor e o crítico Antonio Candido, a partir de estudos focados na análise de O cortiço. Há ainda ensaios sobre obras como O guarani, A Moreninha, Esaú e Jacó, Vidas Secas e A Legião Estrangeira, neste livro que traça elementos para uma teoria do romance no Brasil.
Affonso Romano de Sant'Anna, nascido em Belo Horizonte em 1937, esteve envolvido em todos os âmbitos da literatura brasileira desde os anos 1950. Autor premiado de prosa e poesia, participou dos movimentos de vanguarda poética na segunda metade do século XX. Autor de diversos livros – entre poesia, ensaio e crônica –, Affonso teve forte impacto no cenário da crítica literária nacional com sua inovadora obra analítica. Foi professor em diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Dirigiu a Biblioteca Nacional entre 1990 e 1996.
Quais seriam os limites entre uma literatura infantil, ou infantojuvenil, e a literatura “adulta”? Constituiria a literatura infantil um afluente no grande curso da literatura mundial ou seria ela parte integrante e inseparável do todo? A partir de quando terá existido uma literatura com foco específico em um público infantil? Buscando desenovelar essa história, este livro ajusta lentes para enxergá-la de perto, dentro de outra história, a história da literatura no Brasil.
A autora se debruça sobre uma questão clássica no campo da literatura, que é o sentido e o papel da linguagem em obras escritas em outra língua, que não a materna, exercício de proposital errância de identidade que atraiu escritores do porte de Samuel Beckett, Paul Celan, Elias Canetti, Franz Kafka, Eugène Ionesco, Vladimir Nabokov,Guillaume Apollinaire e Joseph Conrad, apenas para citar alguns. No trabalho, são analisados dois textos que, para a pesquisadora, problematizam bastante bem a definição do que é essa língua não-materna na escrita literária: “Amour Bilingue” (1983/1992), do marroquino Abdelkebir Khatibi, e “Le monolinguisme de l’autre” (1996), do judeu argelino e francês por adoção Jacques Derrida. Este último foi traduzido para o árabe justamente por Khatibi, com quem ele dialogava incessantemente. Para a pesquisadora, os dois autores têm em comum mais do que a proveniência magrebina e o fato de escreverem em uma língua distinta da de seus países de origem. A afinidade entre eles se manifestaria ainda mais no trabalho refinado do pensamento - rigorosamente dentro de uma tradição que poderia ser chamada de francesa -, no cultivo do amor pela língua e pela literatura e também no conflito de identidades colocado por esta maneira radical de se estar no mundo, balizas para uma profícua discussão sobre o pertencimento e sobre a língua.
O conjunto de entrevistas reunidas em A política e as letras apresenta ao leitor um Raymond Williams pouco conhecido do público brasileiro. Gestado com o intuito de discutir sistematicamente o pensamento do intelectual britânico, este livro propõe uma rara reflexão biográfica em que trajetória pessoal e reconstruções teóricas se conformam em um instigante debate sobre a própria atividade intelectual.
Nos ensaios que compõem este livro, Chartier – dialogando com autores como Braudel, Febvre, Ricouer e Freud – analisa esses processos, abordando as continuidades e rupturas em relação ao tratamento que é dado aos livros nas editoras dos dias atuais. O cuidadoso exame de palavras, sentenças, pontuação e traduções emoldura o quadro da produção do livro através do tempo. Estão em foco os autores que vêm se dedicando ao exame minucioso dessas camadas de sedimentos textuais, em busca dos rastros que o processo editorial deixou depositados sobre os textos no decorrer da História. Tomando as obras de Cervantes e Shakespeare como exemplo dos efeitos e variações “impressos” pelo processo editorial, Chartier investiga também a constituição do cânone literário e a noção de autoria nos séculos passados.
Publicado em 1920, 18 anos depois de Os sertões, de Euclides da Cunha, oferece uma fascinante visão dos diversos episódios que envolvem o beato Antônio Conselheiro, uma das figuras mais controversas da história brasileira em sua ambivalente posição de herói de multidões politicamente reprimidas e/ou de fanático religioso.