Se o século XXI arrancou sob a hegemonia do horizonte democrático como modalidade de organização de nossas sociedades, já não se pode mais ignorar os questionamentos aos limites dos sistemas políticos contemporâneos. Longe de tema relegado a um debate meramente acadêmico, essa dubiedade se expressa de maneira nítida nas mais diversas manifestações populares que nestas primeiras duas décadas clamam por “mais democracia” enquanto rejeitam a política tradicional.
Professor titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). Publicou, pela Editora Unesp, Caleidoscópio convexo: mulheres, política e mídia (2011, em coautoria com Flávia Biroli) e Democracia e representação (2014).
Que fatores contribuíram para a formação de determinadas coligações partidárias no Brasil? É essa a proposta deste livro, que reúne ensaios que analisam as relações entre partidos desde o processo de redemocratização e que vêm enriquecer os debates sobre eleições e o sistema político brasileiro.
Ao discutir as relações entre gênero, mídia e política no Brasil, Caleidoscópio convexo discute a maneira como os meios de comunicação se portam ao veicularem notícias do cenário político e destaca as consequências de uma divulgação que privilegia a presença masculina em cargos públicos e reforça a sub-representação política das mulheres.
Embora sua definição clássica seja “governo do povo”, a democracia sempre manteve uma relação ambígua com a igualdade. Se na Grécia Antiga imperavam múltiplas exclusões, nos regimes contemporâneos a extensão da cidadania convive com o alcance reduzido da vontade popular, cujas decisões influem menos nos rumos da vida coletiva. Os ensaios desvelam uma radiografia plural com textos que não só apresentam possíveis enquadramentos das “desigualdades”, mas também propõem uma reflexão abrangente sobre os diversos significados do que se entende por “democracia”.
A missão de fazer um balanço do “Estado da Arte” que trata das pesquisas sobre coligações eleitorais é um exercício que traz satisfação. Primeiro, por constatar os avanços conquistados nas investigações que têm como preocupação central analisar as diversas facetas que dizem respeito ao fenômeno. Segundo, por também ser possível observar que há ainda um campo a desvendar que está aberto para futuras empreitadas. A responsabilidade é maior quando se tem o objetivo de reconhecer e apontar os limites teóricos e metodológicos que ainda permanecem e devem ser superados para uma apreensão mais completa e acurada de dimensões que já foram ou necessitam ser desbravadas, ou que não haviam sido problematizadas. Esta coletânea tem a pretensão de oferecer não somente um diagnóstico atualizado de tendências coligacionistas que já vinham sendo destacadas nas investigações que se fundamentam em opções metodológicas consolidadas na área, mas também de apresentar novos caminhos.
Este livro nasce da inconformidade com a cisão entre realismo e crítica na teoria política contemporânea. Em particular, com dois movimentos complementares. O primeiro deles é o exílio das noções de conflito e de interesse de nosso entendimento da política, a qual passa a ser lida apenas como espaço de cooperação e de solidariedade. [...] O segundo movimento – que depende do anterior para poder se estabelecer – é uma crescente despreocupação com a qualidade democrática das instituições políticas, em particular da representação, mesmo nas franjas que se querem mais progressistas do pensamento teórico. A igualdade política é deixada de lado, em favor de mecanismos “deliberativos” que realizariam o bem comum por meio da ação de elites que assumem o papel de representantes sem constituir qualquer tipo de interlocução com suas pretensas bases. Só num mundo mental em que o conflito de interesses foi ultrapassado é que tal modelo pode se afirmar sem que suas implicações antidemocráticas fiquem patentes.