Trazendo textos de crítica literária escritos para a revista Veja nos anos 1970, Experiência critica supera a mera compilação: organizado pelo próprio autor, o livro convida à reflexão sobre o papel da literatura na sociedade, mediado pela complexa relação entre universidade e imprensa. Não aceitando uma ensaística que subestime o público leitor, Affonso Romano de Sant'Anna buscou em seu trabalho crítico instigar o interesse pela produção literária nacional que então se fazia, estabelecendo uma ponte entre a reflexão acadêmica e o leitor diletante.
Affonso Romano de Sant'Anna, nascido em Belo Horizonte em 1937, esteve envolvido em todos os âmbitos da literatura brasileira desde os anos 1950. Autor premiado de prosa e poesia, participou dos movimentos de vanguarda poética na segunda metade do século XX. Autor de diversos livros – entre poesia, ensaio e crônica –, Affonso teve forte impacto no cenário da crítica literária nacional com sua inovadora obra analítica. Foi professor em diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Dirigiu a Biblioteca Nacional entre 1990 e 1996.
Affonso Romano de Sant'Anna recompõe neste livro seu percurso como ensaista, lançando um olhar atualizado sobre a produção crítica, literária e acadêmica do país. Revisita os caminhos que o levaram a incorporar a estilística, o estruturalismo, a teoria da carnavalização e a psicanálise em sua experiência universitária. Refere-se também a sua experiência em jornais, assinalando as vocação multidisciplinar e polêmica que o levaria ao reestudo tanto do Barroco quanto da Arte Contemporânea.
Nos ensaios deste livro, Sant'Anna estuda o pedregoso caminho da obra de dois de nossos maiores poetas, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, partindo da questão da dificuldades da criação poética. A relação delicada e problemática entre os autores, no limiar entre a filiação a um determinado fazer literário e a elaboração de uma identidade própria, é o ponto de partida para o percurso empreendido.
Affonso Romano de Sant’Anna toma o recente conceito de artificação – elaborado no início do século XXI pela socióloga francesa Roberta Shapiro – para repensar o lugar, o papel e a função da arte em nossa contemporaneidade. Na contramão da antiarte ou da não arte, com sua busca de criar objetos artísticos sem significação, a artificação procura entender como, quando e por que são criadas novas formas de expressão artística, levando-nos a rever o conceito de arte e ainda diversos problemas da modernidade e da pós-modernidade. A investigação da artificação envolve “historiar como se deu a inclusão dos excluídos” no campo das artes, ou seja, como um determinado fazer tornou-se artístico e em que circunstâncias, o que só pode ser problematizado com o aporte de diversas disciplinas, como a antropologia, a sociologia e a história. Neste livro, aliás, Affonso Romano insiste na necessidade de um caráter cada vez mais interdisciplinar para o estudo da arte, renovando alguns enfoques teóricos que, isolados, não conseguem mais dar conta do atual cenário artístico da pós-modernidade, marcado pela morte do autor e da arte e, ao mesmo tempo, pela proliferação de tantas atividades requisitando o estatuto artístico.
Em mais um volume de suas reflexões sobre o universo artístico e a história da arte, Affonso Romano Sant’Anna reúne três ensaios que foram, originalmente, conferências pronunciadas em eventos no Brasil e no exterior. A questão fundamental que os perpassa é a que intitula este livro, a do centro e da periferia: de suas mudanças, inversões, transgressões e novas instituições no mundo contemporâneo. Para isso, mobiliza não só um extenso repertório de leituras de várias áreas do pensamento, como também sua experiência de vida, a experiência de alguém testemunhou as grandes transformações sociais, culturais e políticas dos anos 1960, as quais foram fundamentais para esse descentramento, com sua fragmentação, condensação e deslocamento dos significados, fundindo o alto e o baixo, o sacro e o profano, o grotesco e o sublime, reunindo centro e periferia. O olhar do autor não compactua com os consensos. Ao contrário, interroga e, assim, consegue formular novas visadas para a arte contemporânea – que é o cerne de sua mirada neste livro. Ele nos fazer ver, por exemplo, como o excentrismo acabou por se tornar um novo centro, a norma, o padrão. A partir daí, nos leva a pensar se poderia haver uma nova forma de enxergar o mundo e as artes que ultrapassasse as duas posições antípodas e, em última instância, tão similares, o centrismo e o descentrismo. E é por esses caminhos que indaga a autonomia do sujeito na arte, no cenário contemporâneo, e ainda atravessa a difícil e espinhosa questão da competitividade no meio artístico.
O grande público não se interessa pela arte contemporânea, mas será que a arte contemporânea se interessa pelo público? É a partir de questões como essa – estampada no Museu D’Orsay, em Paris, anos atrás – que o escritor e crítico Affonso Romano de Sant’Anna instaura uma reflexão original em torno do que chama de a insignificância nas artes plásticas contemporâneas, ou seja, o fato de que as obras privilegiam a construção da não significação, em completa oposição à tradição não apenas das artes plásticas, mas das artes de modo geral. Avançando em discussões travadas em livros anteriores como Desconstruir Duchamp e O enigma vazio, e apoiado em contribuições de disciplinas diversas, com destaque para a antropologia, a linguística e a semiologia, o autor, nos dois ensaios que compõem este livro, propõe modos de interferir na confecção da própria história da arte, pensando em novos métodos para essa história, e assim questionando, por exemplo, qual é o lugar da transgressão na arte. Affonso Romano de Sant’Anna procura traçar o que identifica como a base gramatical do discurso atual das artes plásticas, compreender sua estrutura interna, de forma a refletir sobre esse discurso e, indo além, pensar e problematizar os próprios enigmas de nosso tempo.