O que são os símbolos, para termos de nos preocupar com eles? Com certeza, não são algo que “os nativos” contaram para os antropólogos, ainda que, muitas vezes, eles sejam francos com relação ao que chamamos de “seu conteúdo”.
Este é um livro sobre o sentido como poder organizador e constitutivo na vida cultural. Seu argumento é de que o fenômeno humano é uma ideia única e coerente, organizada mental, física e culturalmente em torno da forma de percepção que chamamos de “sentido”. Essa ideia possibilita uma perspectiva em desdobramento, simples e unificada, em vez do mosaico explanatório gerado pela colisão acidental entre um fenômeno genérico conhecido e disciplinas acadêmicas particulares.
Roy Wagner é professor de Antropologia na Universidade de Virginia. Seu livro A invenção da cultura é um clássico da Antropologia contemporânea.
Neste clássico livro que completa trinta anos em 2010, Michael T. Taussig investiga o significado social do diabo no imaginário de camponeses e mineradores na Colômbia e na Bolívia. Munido da teoria marxista, o autor empreende um estudo etnográfico para captar o impacto da introdução da racionalidade produtivista em comunidades até então regidas por lógicas tradicionais. Taussig depreende que o fetichismo do mal, na imagem do diabo, faz a mediação do conflito entre os modos pré-capitalista e capitalista de materializar a condição humana.
Na Europa do século XVIII, a preferência exótica pelo uso do café e da bebida dos índios, ou seja, o chocolate, constitui sinal de uma profunda transformação da moda, do gosto e das boas maneiras, alimentada pelas novas tendências filosóficas e, em geral, pela modernização dos costumes e das formas de vida. Piero Camporesi, em sua capacidade de fazer falarem os textos e os documentos da época, reconstitui, de forma saborosa, um novo capítulo da história das mentalidades e do gosto.
Livro que apresenta uma reunião de textos que adicionam novos temas a questões tradicionalmente abordadas, ao longo de mais de quatro décadas, por Roberto Cardoso de Oliveira. Aqui é tratada temática da identidade étnica, a sua relação com os fenômenos culturais e com o mundo moral: a recuperação da dimensão do Ego associada ao problema da liberdade frente às possibilidades de manipulação da identidade étnica; as vicissitudes da identidade étnica e/ou nacional nas mais variadas situações observáveis no interior das sociedades anfitriãs de grande escala; e, finalmente, a transposição de uma experiência de pesquisa até então centrada nas relações entre índios e não índios passa, agora, para um estudo voltado à gênese de ideologias étnicas numa nação milenar.
Samba e identidade nacional investiga as raízes desse gênero musical tornado símbolo de um povo em meio ao projeto varguista de Estado nacional. Magno Bissoli Siqueira intercala referências a historiadores clássicos com análises detalhadas de partituras e gravações para mostrar como o samba, de marginalizado e proibido, transformou-se na música-símbolo do Brasil.
Este livro inscreve-se em uma perspectiva pouco usual nos estudos sobre as mulheres na história. Susani Silveira Lemos França não se propõe revisitar os documentos produzidos pelos viajantes cristãos em direção ao Oriente, entre os séculos XIII e XV, com a finalidade de desvelar a opressão de gênero ou as desigualdades das relações entre os sexos. Sem tirar o inquestionável mérito das investigações que desnudaram o papel social da mulher ao longo da história, este trabalho tem a particularidade – e nisso está sua principal virtude – de explorar os potenciais dos simbolismos dos sexos em uma perspectiva não essencialista.
O objeto principal da obra são justamente as nuances do olhar do homem cristão sobre mulheres observadas de longe, por vezes, até com indiferença. A autora lembra historiadores como Georges Duby e Christiane Klapisch-Zuber, os quais, ao investigarem as mulheres medievais, acabaram por saber mais sobre os homens daquela época, uma vez que eram eles que construíam a narrativa sobre o sexo oposto. Susani Silveira Lemos França acrescenta, porém, uma complexidade nesse entendimento: o que o discurso dos homens cristãos pôde revelar quando tratou das mulheres de terras remotas?
A partir de contraposições e paralelos, surge assim uma narrativa que explora os significados dos relatos construídos pelos viajantes sobre mulheres que, embora não lhes fossem próximas, eram descritas a partir do conhecimento daquelas de suas terras. Os relatos analisados cobrem um amplo espectro geográfico – da China ao norte da África, por exemplo – e temporal, mas o que se investiga neles não são suas dessemelhanças, e sim aquilo que os unifica, sua constância: o referencial da mesma fé cristã. Daí que, em Mulheres dos outros, a singularidade de cada relato de viagem importe menos que as recorrências, pois estas compõem uma narrativa dos valores partilhados e das fórmulas bem aceitas no fim da Idade Média.