As práticas editoriais de Monteiro Lobato
Este livro investiga a atividade editorial de Monteiro Lobato entre 1918 e 1925 a partir do levantamento e a análise de documentos até agora inéditos entre os pesquisadores que se debruçaram sobre o projeto intelectual lobatiano. A investigação do material numa perspectiva histórica permitiu à autora revisar a prática editorial de Lobato e definir com mais precisão quando ela foi e não foi revolucionária, reavaliando criticamente os estudos que habitualmente retratam o trabalho editorial de Lobato como absolutamente inovador. Além disso, Cilza Bignotto demonstra como a atividade editorial lobatiana permitiu a construção de redes extensas de sociabilidade entre vários intelectuais, o que contribuiu sobremaneira para a construção de sua própria figura de autor, além de sua inserção e consolidação no campo literário paulista e nacional da época.
Cilza Carla Bignotto é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com mestrado e doutorado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente é professora de Teoria Literária e Literatura Brasileira da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
Nos ensaios que compõem este livro, Chartier – dialogando com autores como Braudel, Febvre, Ricouer e Freud – analisa esses processos, abordando as continuidades e rupturas em relação ao tratamento que é dado aos livros nas editoras dos dias atuais. O cuidadoso exame de palavras, sentenças, pontuação e traduções emoldura o quadro da produção do livro através do tempo. Estão em foco os autores que vêm se dedicando ao exame minucioso dessas camadas de sedimentos textuais, em busca dos rastros que o processo editorial deixou depositados sobre os textos no decorrer da História. Tomando as obras de Cervantes e Shakespeare como exemplo dos efeitos e variações “impressos” pelo processo editorial, Chartier investiga também a constituição do cânone literário e a noção de autoria nos séculos passados.
Este livro conta a jornada em busca de oito livros perdidos, livros quase míticos: todos aqueles que os procuram estão certos de que existem e de que vão encontrá-los, mas ninguém realmente tem provas concretas e conhece rotas seguras até eles. Muitas vezes, as pistas são fugazes e a esperança de encontrar essas páginas é mínima. Mesmo assim, a viagem vale a pena. São livros que existiram e desapareceram. Byron, Gógol, Hemingway, Walter Benjamin e Sylvia Plath estão entre os autores desses ilustres desconhecidos. Os livros perdidos não são livros esboçados pelo autor e nunca nascidos: são aqueles que o autor escreveu, que alguém viu e talvez tenha até lido, e então foram destruídos ou desapareceram de alguma maneira. Livros queimados, rasgados, roubados... livros que não chegaram a nós, mas sobre cuja existência se tem certeza.
Este livro trata da obra de dois escritores: o espanhol José de Espronceda y Delgado (1808-1842) e o brasileiro Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852), ambos considerados expoentes de uma corrente noturna do Romantismo. A análise comparativa mostra o apreço que nutriram por obras, temas, arquétipos e outros elementos comuns em voga no romantismo europeu. Personagens que retomam o arquétipo do herói byroniano e sua problemática psique, a vaidade fáustica, a sedução donjuanesca, a bela e a fera habitando o mesmo ser, a loucura, o amor, a morte e uma profusão de imagens que simbolizam a complexa teia de sentimentos díspares, ambíguos e violentos que emergem do inconsciente. A forma com que cada escritor relê esses elementos deixa entrever motivações de cunho estético e/ou político e acabam produzindo obras que remetem, por meio de um sistema simbólico transnacional, uma revisão das polêmicas locais. O florescimento do espírito revolucionário romântico impulsionou a leitura e a releitura de velhos mitos renascentistas para fazê-los ressurgir sob uma nova roupagem.
Com seguro conhecimento da língua e da literatura francesas, Daniela Mantarro Callipo insere este livro numa das linhas de pesquisa comparatista que se acentuou nas últimas décadas: o confronto entre textos de sistemas literários distintos que busca explicitar não somente o que eles têm em comum, mas, em especial, as diferenças que apresentam. Consciente de que a citação não é periférica nas atividades de leitura e de escritura – antes representa um mecanismo capital de toda prática de linguagem –, a autora discute a presença da poética de Victor Hugo nas crônicas de Machado de Assis. Cada capítulo é organizado em torno das crônicas machadianas em que foram identificadas a relação intertextual com a poesia hugoana. Seja sob a forma de citação explícita seja como paródia, essa presença do intertexto é concebida como uma força em que põe em ação o diálogo do escritor brasileiro com a obra do poeta francês.
A arte de pagar suas dívidas e satisfazer seus credores sem desembolsar um tostão é um título que já resume, de certa forma, esta peculiar obra. Datada de 1827 e publicada em Paris, seu autor é considerado Émile Marc Hilaire, que em seu tempo foi responsável por escrever uma série de “guias” como este (A arte de nunca almoçar sozinho e sempre jantar na casa dos outros, A arte de fumar e apreciar rapé sem desagradar as belas, ou A arte de colocar sua gravata), direcionados à elite da época e publicados por Honoré de Balzac (que provavelmente foi o verdadeiro autor dessas obras). Nesta obra são apresentadas em dez lições (e uma conclusão), com uma série de artifícios para o devedor ganhar a confiança do seu credor. Ao contrário do que o supostamente óbvio título indica, esta obra se configura mais como uma sátira que um guia. Com uma linguagem sarcástica, são apresentadas as facetas da vida econômica e social da França do século XIX, levando o leitor atual a descobrir este tempo por meio de uma leitura incomum.