Há quase trinta anos, o sociólogo, antropólogo e filósofo francês Bruno Latour vem se dedicando a refletir sobre o casamento, não livre de adversidades, da ecologia com a política. Se não é exatamente recente o boom dos movimentos engajados em ativismo ambiental, é preciso trazer ao debate a questão: diante das transformações climáticas, das agressões sistemáticas das quais o planeta padece, eles têm conseguido efetivo respaldo político? A ecologia política é capaz, afinal, de dar conta desse delicado desafio?
Bruno Latour é diretor-adjunto e diretor científico da Sciences-Po, em Paris, onde desenvolveu o programa de Experimentação em Artes e Política (SPEAP, na sigla em francês). De sua obra, a Editora Unesp publicou Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora (2011), A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos (2017), Políticas da natureza: como associar a ciência à democracia (2018), A fabricação do direito: um estudo de etnologia jurídica (2019) e Júbilo ou os tormentos do discurso religioso (2020).
Latour proporciona aqui uma audaciosa análise da ciência, demonstrando o quanto o contexto social e o conteúdo técnico são essenciais para o próprio entendimento da atividade científica.
Por onde podemos começar um estudo sobre ciência e tecnologia? A escolha de uma porta de entrada depende crucialmente da escolha do momento certo.
Nesta obra, Latour estrutura sua mais ambiciosa incursão filosófica desde Ciência em ação. Tendo como ponto de partida estudos de caso – seja de cientistas analisando o solo da Amazônia, seja de Pasteur estudando a fermentação do ácido láctico no laboratório –, ele disseca cuidadosamente os componentes aparentes e ocultos das atividades e dos pensamentos dos cientistas. Através desses e de vários outros exemplos o autor percorre a miríade de passos pelos quais os eventos do mundo material são transformados em conhecimento científico e desvela a maneira como os mundos material e humano se associam e são reciprocamente transformados durante o processo.
A importância deste estudo para os estudos sociais do direito está principalmente no fato de que, com base em um acesso sem precedentes a discussões coletivas de juízes, Latour conseguiu reconstruir em detalhes a tecelagem do raciocínio jurídico: claramente não é o fator social que explica a lei, mas são os liames legais que definem os elementos que se associam. O livro vem ocupar posição estratégica na obra de Latour, que agora pode comparar os modos pelos quais os caminhos jurídicos constroem associações com outros tipos de conexão por ele estudadas em outras áreas do conhecimento. Seu projeto de interpretação alternativa da própria noção de sociedade nunca esteve tão claro quanto neste livro, que é uma espécie de olhar laboratorial sobre a área do direito.
Após os trabalhos de Bruno Latour em ciência, tecnologia e, mais recentemente, em direito, este livro explora em profundidade os atos da fala religiosa. Embora não haja dúvida de que a religião tenha sido intensamente valorizada no curso da história, também está claro que se tornou imensamente difícil sintonizar seu modo altamente específico de enunciação. Todo esforço para falar com a tecla certa parece estranho, reacionário, piedoso ou simplesmente vazio. Daí a necessidade de criar uma maneira de escrever que ponha em evidência essa forma de falar tão difícil de descrever para torná-la audível novamente. Neste livro, o autor oferece uma abordagem original sobre os conflitos intermináveis entre ciência e religião, protegendo-os da confusão com a noção de informação.
Qual o papel do intelectual quando as posições extremadas parecem turvar todo o debate? Qual a relação entre cultura e política em uma sociedade democrática? Essas perguntas estão no cerne das preocupações de Norberto Bobbio e são exploradas ao longo dos 15 ensaios coligidos neste Política e cultura.
Escrito em um ambiente marcado pela Guerra Fria e pelo fracasso na Itália das forças políticas que procuravam alternativas à polarização entre socialismo e capitalismo, Política e cultura é um dos principais livros de Bobbio, traduzido para 19 idiomas e com mais de 300 mil exemplares vendidos no seu país de origem. Nesta obra, o autor desenvolve reflexões vinculadas ao seu ideal de um novo liberalismo, fortemente sensível aos temas da justiça social, mas convicto também em exigir a limitação constitucional e o controle permanente dos poderes do Estado por parte dos cidadãos.