Práticas criativas em Educação Musical
Desde a década de 1960, as práticas criativas em Educação Musical têm sido alvo de interesse e estudo de muitos educadores musicais/ compositores em todo o mundo. Esteve também bastante presente no Brasil, com as propostas de Hans-Joachim Koellreutter e Conrado Silva, entre muitos outros. Assinale-se, também, a presença no país do canadense Murray Schafer a partir de 1990, que exerceu grande influência nos estudos dessa temática, desde que começou a visitar o Instituto de Artes da Unesp e a ter seus livros publicados no Brasil.
Recentemente, em 2011 e 2012, prosseguindo em sua tradição de pesquisar esse tema, o GEPEM – Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Musical –, sediado no IA/Unesp, recebeu a visita da pesquisadora e docente Chefa Alonso, musicista espanhola especializada em técnicas de Improvisação Livre, em que se destaca o trabalho sistemático de criação e improvisação com instrumentos, voz e corpo.
A preocupação com as práticas criativas em Educação Musical é o germe de toda pesquisa desenvolvida pelo GEPEM no decorrer dos anos e a vinda de Chefa Alonso contribuiu fortemente com as investigações do grupo. Sua experiência enriqueceu o trabalho e reforçou a percepção da importância de se aprofundar no estudo dessa temática e em sua aplicação em diferentes contextos, nas escolas, projetos sociais e em cursos profissionalizantes e superiores de Música.
No presente trabalho, Marisa Trench de Oliveira Fonterrada oferece ao leitor o resultado de sua pesquisa na área de Educação Musical, partindo da análise da experiência de Chefa Alonso e enveredando por uma profunda reflexão a respeito do tema, graças à colaboração de educadores musicais de todo o país, consultados por internet, e de pesquisadores brasileiros e espanhóis entrevistados. Em Ciranda de sons, apresenta-se um levantamento inédito de como o assunto tem sido tratado no Brasil, tanto no que se refere à produção acadêmica quanto no que diz respeito à atuação de professores de música brasileiros de diferentes formações e que atuam em múltiplos espaços, assim contribuindo para o desenvolvimento da área da Educação Musical.
Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, docente do Instituto de Artes da Unesp, é mestre em Psicologia da Educação, doutora em Antropologia pela PUC-SP e livre-docente em Educação Musical pelo Instituto de Artes da Unesp. É membro fundador do The World Forum for Acoustic Ecology (WFAE), do Forum Latinoamericano de Educación Musical (Fladem) e da Associação Brasileira de Estudos Canadenses. É membro do The Wolf Porject, grupo canadense que se reúne anualmente para realizar a obra artístico-ecológica de Murray Schafer na floresta de Haliburton, Ontário.
Desde 1966, a música recuperou seu status de disciplina educacionale voltou a estar presente nas escolas. No entanto, após três décadas de ausência, perdeu-se a tradição da educação musical. Por isso, além de oportuno, é necessário repensar os modos de implantação de seu ensino e de sua prática. Como ponto de partida, a autora considera o quanto a educação musical decorre de hábitos, valores, condutas e visões de mundo da sociedade de cada época. Entretanto, deixa claro que a música é uma parte necessária, e não periférica, da cultura humana, merecendo ocupar um lugar proeminente no sistema educacional. Em face disso, defende a necessidade de combater vigorosamente a indigência cultural a que a escola está submetida e de reconhecer a relevância das artes – particularmente, da música – no processo educativo.
Este livro é um estudo analítico e interpretativo da obra Patria, do compositor canadense Murray Schafer. Patria vem sendo elaborada há trinta anos; com ela Schafer desenvolve sua proposta de recuperação do antigo poder da arte, enfraquecida pelas características inerentes à civilização contemporânea. Com a aproximação da autora ao trabalho do músico canadense, sua intenção era estudá-lo a fundo e debruçar-se sobre os aspectos socioantropológicos da obra do artista.
A paisagem sonora – termo cunhado pelo próprio R. Murray Schafer – é nosso ambiente sonoro, o sempre presente conjunto de sons, agradáveis e desagradáveis, fortes e fracos, ouvidos ou ignorados, com os quais vivemos. Do zumbido das abelhas ao ruído da explosão, esse vasto compêndio, sempre em mutação, de cantos de pássaros, britadeiras, música de câmara, gritos, apitos de trem e barulho da chuva tem feito parte da existência humana. A afinação do mundo é uma exploração pioneira da paisagem sonora: uma tentativa de descobrir como era ela no passado, de analisar e criticar o modo como é hoje, de imaginar como será no futuro.
A proposta de Schafer é particularmente possível para o Brasil. Não se trata de uma proposta dirigida a alunos especialmente dotados, mas a toda a população, independentemente de talento, faixa etária ou classe social. Além disso, Schafer preocupa-se em particular com os elementos mais simples, com as observações mais corriqueiras: de quantos modos diferentes pode-se fazer soar uma folha de papel? Ou as cadeiras de uma sala de aula? Como sonorizar a história de modo a torná-la reconhecível apenas por seus sons? Como construir uma escultura sonora?
Buscando exemplos na natureza, na história ou em geografias distantes, estes textos – redigidos ao longo dos anos que se seguiram à publicação de "A afinação do mundo" – ajudaram a inaugurar o campo dos estudos e do design de paisagens sonoras, do qual Schafer foi pioneiro. Um pouco como o próprio som, que pode facilmente construir ou destruir paisagens, estes escritos são de grande valia para aqueles que buscam criar um futuro mais humanista, voltado ao bem-estar, respeitoso para com o meio ambiente e, por consequência, menos caótico.