Tema obrigatório no cenário internacional contemporâneo, a permanente tensão institucional na Venezuela suscita controvérsia dentro e fora do país. Frequentemente caricaturada como perigoso resultado de exotismos personalistas do presidente Hugo Chávez, a revolução venezuelana – "revolução em andamento" – é expressão de um passado rico, complexo e tumultuoso e expõe encruzilhadas inevitáveis com que depara o futuro do subcontinente americano.
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O ideal de uma república, "o verdadeiro Peru", fiel a valores igualitários desrespeitados desde a emancipação ante a Coroa espanhola, foi sistematicamente abraçado pelas correntes libertárias peruanas, de Mariátegui e González Prada à atuação do Sendero Luminoso; um país que reconhecesse não apenas a impressionante herança histórica e cultural dos incas, mas que se emancipasse do elitismo crioulo, responsável pela marginalização da esmagadora maioria da população, particularmente de seus segmentos rural e indígena. Praticamente sem hiatos, a luta pela concretização desse sonho atravessa a história peruana, da independência, em 1821, até nossos dias. A Revolução Peruana traça justamente essa trajetória, expondo o que há nela de peculiar e o que a aproxima das tensões e dos dramas presentes em todo o subcontinente.
A Revolução no México e suas figuras exponenciais, como Emiliano Zapata, têm destaque no imaginário popular. Sua longevidade e a popularidade de seus ideais expõem circunstâncias históricas distintivas que definem a trajetória do país desde finais do século XIX. Mas a pujança dos anseios igualitários que se entrelaçavam com esses movimentos transcende fronteiras e ainda hoje inspira o mundo. Tão viva quanto a memória revolucionária mexicana é o reconhecimento de sua relevância e complexidade e a intensa disputa interpretativa que enseja.
Ícone das guerras de independência contemporâneas, a luta argelina contra o domínio francês foi das mais sangrentas do século, alcançando a cifra assombrosa de centenas de milhares de mortos. Mas os desafios que se apresentam ao modelo socialista da FLN não se esgotam com a derrota da potência colonial. As complexidades dessa nação – que empedernidamente sustentou seu não alinhamento durante a Guerra Fria, alcançou pluralismo político ímpar na região, enfrentou as instabilidades de uma economia alicerçada no petróleo e que hoje se depara com a crescente e agressiva presença do fundamentalismo islâmico – impõem encruzilhadas dramáticas para uma Argélia que ainda se constrói.
Por mais de cinquenta anos, a trajetoria da experiência revolucionária em Cuba abrigou personalidades marcantes, como Che Guevara, e acontecimentos dramáticos, como a Crise dos Mísseis. Todos esses icones históricos do século XX entrecruzam-se com a profunda reestruturação interna da economia e sociedade cubanas e o associado desafio à antes incontrastada hegemonia dos Estados Unidos sobre a América Latina. A complexidade desses elementos não deve ser menosprezada e, em si, é uma explicação para as paixões e a batalha interpretativa ainda hoje evocadas por essa evolução caribenha.
A Coreia do Norte é comumente retratada no Ocidente de forma caricatural. Difunde-se a imagem de um regime fechado, à beira do colapso, irracional, que oprime um povo faminto enquanto investe fortunas em um projeto nuclear megalomaníaco. Perdem-se, nessas representações caricatas e eivadas de objetivos políticos, tanto o contato com a real configuração do regime norte-coreano, de impressionantes conquistas socioeconômicas, quanto as complexidades que caracterizaram todo o processo revolucionário e continuam a tensionar o sudeste asiático.