O leitor deve estar curioso sobre o que esperar do último livro escrito por Jacques Le Goff, falecido em 2014. A resposta mais simples seria “coerência”. Sem se desviar da visão historiográfica que marcou sua longa e prolífica carreira, especialmente como medievalista, o autor já planteia no título do livro a pergunta-mote de sua reflexão central nesta obra, a respeito da necessidade de estabelecer “períodos”, “partes”, “pedaços” ou “fatias” da História para que seja possível identificar e tentar compreender as continuidades e rupturas que marcaram a trajetória da humanidade.
Jacques Le Goff (1924-2014), um dos mais reconhecidos medievalistas de todos os tempos e expoente da Escola dos Annales, foi diretor de estudos na École des Hautes Études en Sciences Sociales. E autor de prolífica obra, da qual a Editora Unesp publicou Por amor às cidades (1998) e Uma vida para a história (2007).
Jacques Le Goff significa, para os historiadores em geral, um dos ícones que promoveram uma profunda revolução no modo de conceber a profissão. Neste livro, ele conversa com Marc Heurgon sobre sua vida e estabelece as conexões entre a história e a memória que teorizou na Enciclopédia Einaudi. Neste volume, descortina-se um homem que, preocupado com os problemas contemporâneos, se debruça sobre o passado, marcado pela guerra e pelas novas dimensões de um mundo que teve como marco a Bomba Atômica.
Neste livro que integra a série de entrevistas com grandes historiadores, Jacques Le Goff e Jean Lebrun procuram fornecer os modos de compreensão da ruptura urbana que caracterizam nossa época. Por meio de quatro temas (a cidade como lugar de troca de diálogo, como lugar de segurança, de poder e de aspiração à beleza), os historiadores analisam a reconfiguração do conjunto de funções da cidade. A pesquisa iconográfica aparece aqui como complemento necessário ao texto.
“Não tento decidir sobre o que é um símbolo, o que é uma alegoria, nem como encontrar a boa interpretação, mas compreender, e se possível manter, o complexo e o plural.” É assim que Todorov demarca sua ambição neste livro, no qual, para falar do fenômeno da simbólica da linguagem, percorre disciplinas como a lógica, a poética, a retórica e a hermenêutica, em espaços e temporalidades diferentes, como a antiga tradição hindu, ou a exegese patrística e a filologia. Os exemplos textuais de que se vale são também variados, passando por Tolstoi, São João da Cruz, Maeterlinck, Henry James, Flaubert, Baudelaire, Rimbaud, Nerval e Kafka. Obra esclarecedora, que estabelece de forma precisa os diálogos entre esses vários estudos, entrelaçando os campos da produção e da recepção do simbólico na linguagem.
De todas as instituições do século XX, certamente os campos de concentração estão entre as mais sombrias e assustadoras, justamente por nos revelar uma face da humanidade até então desconhecida ou ao menos ignorada: aquela capaz de organizar racional e institucionalmente o extermínio em massa de seus integrantes. Foi nesses locais de confinamento, tortura e penúria que pudemos observar os limites do homem em situações de terror, tanto dos que o praticam como daqueles que o sofrem. Mas em uma realidade tão drástica e limitadora, haveria espaço para virtudes heroicas, ou ali reinaria apenas o ódio recíproco? Seria então possível refletir sobre a moral das ações de personagens de ambos os lados em um ambiente “desumano” como esse? Todorov mergulha em vasta literatura memorialista dos sobreviventes de campos de concentração, nazistas e soviéticos, e em depoimentos de agentes desses regimes para nos mostrar que a vida nesses lugares, ao contrário do que é comum que se acredite, não perdeu sua dimensão moral. Nos relatos de que se vale o autor, encontramos entre os detentos as mais variadas demonstrações de companheirismo, fidelidade incondicional e resignação estoica, mas também atos de covardia e traição, obviamente compreensíveis em seu contexto. Da mesma forma, conhecemos mais a fundo o sangue-frio e a truculência dos oficiais do regime, mas algumas vezes somos surpreendidos por exemplos seus de comiseração e empatia que parecem tentar escapar às sólidas barreiras do totalitarismo.
A obra monumental sobre a Idade Média organizada por Jacques Le Goff e Jean-Claude Schmitt, que agora sai em nova edição revista, deslinda o complexo sistema de noções que constitui o tema do medievo. Organizada em forma de dicionário, traz verbetes que seguem três linhas magnas de orientação: o traçado de uma história do imaginário sobre a Idade Média; a busca de uma Antropologia histórica, ou seja, a história em diálogo com as ciências sociais; e o olhar desconfiado sobre noções pétreas sobre um período repleto de problemáticas que, em grande parte, ainda tentamos solucionar.