A ironia na poesia de José Paulo Paes
José Paulo Paes entrou para a literatura com a chamada Geração de 1945, grupo em que ele aparece como exceção: se, nesse período, houve abandono da prática experimental dos modernistas e dos instrumentos e gêneros que lhes eram caros, como a ironia, o humor, a piada, a sátira e a paródia, o discurso poético de Paes configura-se por modos considerados não sérios, descrevendo com intensidade seu próprio tempo histórico. Este livro analisa a recepção crítica da obra poética e, de modo fulcral, a forma como se apresenta o princípio-corrosão da poética paesiana, articulado com o humor e a ironia, como elementos importantes de um possível projeto satírico do autor. À luz dos estudos de Richard Rorty e de Northrop Frye, o autor desta obra defende que a ironia e o humor, como cúmplices, garantem aos versos de José Paulo Paes uma qualidade estética ímpar, que rearranja o mundo por meio de seu próprio jogo de linguagem ou por seu esforço de autocriação.
João Carlos Biella é doutor em Estudos Literários pela Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, câmpus de Araraquara. Natural de Itápolis (SP), atualmente é professor de Literatura e Redação no Ensino Médio.
Conjunto de estudos produzido por pesquisadores da área de Letras, este livro trata da obra de um curioso personagem, Antônio da Fonseca Soares, autor português do século XVIII. A singularidade do poeta e orador está no fato dele ter produzido uma obra vasta, parte composta por poemas eróticos, satíricos e lírico-amorosos, assinada por Antônio da Fonseca Soares, e parte relativa a uma oratória fervorosamente religiosa, assinada por Frei Antônio das Chagas, nome sob o qual se tornou mais conhecido. O segundo personagem emerge após a conversão do poeta à vida monástica. Essa escolha motivou o poeta, que havia se exilado voluntariamente no Brasil, a escrever uma carta a Dom Francisco de Sousa pedindo para voltar a Portugal na condição de religioso, tornando-se esse documento essencial para se compreender sua conversão. Ao mesmo tempo, a própria escolha do poeta como objeto de estudo deu-se por um “acidente de percurso” durante a elaboração de um guia biográfico e bibliográfico de cerca de duas centenas e meia de autores que assinaram trabalhos nas academias brasílicas da Bahia nos anos de 1724 e 1759. Constatou-se, então, que o nome de Antônio da Fonseca Soares não constava em nenhuma daquelas associações. Mesmo assim, optou-se pela inclusão de 104 de suas produções, em mais de três centenas, que se encontram arquivadas na Biblioteca Geral de Universidade de Coimbra, em Portugal. Os estudos abordam diversas questões sobre o poeta e religioso português e seus escritos, como a relação entre suas identidades e a forma como representou a mulher em sua obra.
Este volume pioneiro reúne uma equipe internacional de historiadores para apresentar a prática da tradução como uma parte da história cultural. Embora a tradução seja essencial para a transmissão de ideias, sua história tem sido geralmente negligenciada pelos historiadores, que a relegaram a especialistas em literatura e línguas. O livro procura compreender as contribuições da tradução para a difusão de informações na Europa Moderna, concentrando-se na não-ficção: a tradução de livros sobre a Religião, História, Política e especialmente Ciência, ou "Filosofia Natural", como era geralmente conhecida nessa época. Os capítulos tratam de diversas línguas, incluindo latim, grego, russo, turco e chinês. A obra atrairá especialistas e estudantes dos períodos Moderno e posteriores, e historiadores da Ciência e da Religião, bem como qualquer pessoa interessada nos estudos da tradução.
Este volume reúne vários ensaios sobre o percurso da produção editorial brasileira, durante seus dois séculos de história. Constrói-se assim um retrato multifacetado que expõe as peculiaridades da origem, os desafios do transcurso e o panorama que se descortina para esse elemento essencial da vida cultural do país.
Onze anos depois da Semana de Arte Moderna de 22, Oswald começa a pôr em prática o projeto de uma série de romances intitulada Marco zero, no qual procuraria retratar o Brasil que estava surgindo a partir de 1930. Nem todos os volumes programados foram escritos e a crítica sempre considerou o resultado como de valor menor por seu excesso de engajamento político. Antonio Celso Ferreira procura desfazer essa interpretação pela leitura atenta de historiador sintonizado com a evolução da literatura brasileira.
A autora estuda neste trabalho a trajetória de três brasileiros: um sargento, um capataz e um bacharel. São personagens de três obras conhecidas da literatura brasileira, Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, Uma estória de amor (Festa de Manuelzão), de João Guimarães Rosa, e Bangüê, de José Lins do Rego. A ênfase é dada nas diferentes modulações do núcleo dramático comum, representado pela crise de identidade do herói, provocada por seu desenraizamento.