Rousseau foi um dos pensadores europeus mais reconhecidos do século XVIII. Na infância, foi criado pela sua tia, já que sua mãe falecera poucos dias após seu nascimento. Filósofo iluminista e precursor do romantismo, escreveu Contrato Social (1762), Discursos sobre a ciências e as artes (1749), Devaneios de um caminhante solitário (1776), entre outras obras.
Os anos passados entre 1755 e 1762 não foram bons para Rousseau. Certamente são importantes para os que o leem séculos depois, já que se trata do período no qual começam a ser redigidos o Contrato Social, A Nova Heloísa e Emílio. Mas o filósofo passava por um momento delicado, enfrentando as divergências em seu círculo intelectual, problemas de saúde, além do rompimento com Diderot e Grimm, ao mesmo tempo em que experimentava uma paixão problemática pela Sra. Sophie d' Houdetot. Conhecemos tais detalhes – deste e de outros períodos de sua vida, abarcando os anos de 1755 a 1776 – acompanhando os fragmentos organizados cronologicamente em Textos autobiográficos e outros escritos, lançado pela Editora Unesp em 2010, que completa o pensamento e o caminho da obra russeauniana.
Integrante da Coleção Pequenos Frascos, o livro está dividido em duas partes. A primeira, intitulada As Quatro Cartas, escritas em janeiro de 1762, parte de uma espécie de desabafo no qual Rousseau fala sobre os intelectuais que o acusavam de aversão aos homens e à sociedade. Ele aqui se esforça em demonstrar seu apreço pelas relações humanas, mas admite sua preferência pela solidão e liberdade. Na segunda e terceira cartas, conta histórias de sua infância, do desenvolvimento de sua imaginação e sensibilidade, explicando como se deu sua formação e sua entrada na comunidade intelectual da época.
Já os Textos autobiográficos esclarecem o que ele considerava sinônimo de verdade, definindo o estilo do escritor. Neste conjunto de cartas onde se destaca o melhor do prosa do filósofo, também é revelada uma faceta muito peculiar do universo de Rousseau. Em oposição aos seus contemporâneos do século XVIII, que viviam os prazeres imediatos e se acomodavam à ideia de “felicidade possível”, o filósofo expressa a vontade em encontrar a felicidade absoluta, concluindo que a sabedoria deverá se originar na solidão criadora.