Misto de professora, escritora e jornalista, Cândida Fortes Brandão nasceu e viveu em Cachoeira do Sul (RS), onde dedicou a vida a seus ideais: a poesia, o jornalismo e o magistério. Apesar de ter sido reconhecida por Júlia Lopes de Almeida como "mãe intelectual dos cachoeirenses", ter sido aclamada por Olavo Bilac e integrar a Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, seu nome ficou esquecido. Este livro faz o necessário e merecido resgate desta figura central nas letras brasileiras, por meio de alguns de seus textos mais memoráveis.
A cidade brasileira do período colonial aparece em tratados descritivos, relatos de viagem, pinturas, aquarelas e em poemas do Barroco e do Arcadismo. É no século XIX, entretanto, que passa a ser representada com frequência em textos literários e em pinturas de viajantes e artistas brasileiros. Com o advento da fotografia, a partir da descoberta de Daguèrre em 1839, multiplicam-se as representações de paisagens urbanas do Brasil nas imagens produzidas por fotógrafos como Revert Klumb, Augusto Stahl, Marc Ferrez e Militão Augusto de Azevedo. A literatura, a pintura e a fotografia são fontes documentais relevantes para a construção da história da cidade brasileira. É preciso, contudo, lembrar que a cidade na arte é sempre uma representação – expressão dos vários olhares que convergem para a mesma paisagem. Esta obra procura investigar e demonstrar o modo como a cidade brasileira está presente na literatura, na pintura e na fotografia durante o período colonial e nas décadas que precederam o advento da República, assim como destacar a importância da arte como registro histórico da cidade.
Uma problemática organiza a estrutura deste livro: quais funções tem exercido o discurso de Administração Escolar na produção do conhecimento, especialmente o conceito de Administração Escolar? Graziela Zambão Abdian analisa a construção histórica desse discurso e constata que o pesquisador, ao reproduzir o conceito de Administração Escolar como mediação para o alcance de fins determinados, acaba por modelar a escola e seu cotidiano, por mais que variem o referencial ou os procedimentos de pesquisa Em seguida, a autora analisa a trajetória de sua própria pesquisa para compreender a formação da subjetividade e trazer os limites impostos pelas regras de formação postas em prática. Por fim, busca construir novas ferramentas metodológicas para serem discutidas por pesquisadores na área. Esse percurso permitiu a autora constatar que o discurso impede o pesquisador de fazer o conhecimento se diferenciar e que é necessário apreender a lógica da multiplicidade e da heterogeneidade do cotidiano a partir de suas próprias regras, que podem não ser as melhores, mas são diferentes daquelas pelas quais fomos governados até o momento.
Fruto de uma premiada pesquisa de doutorado, este livro convida o leitor a explorar os discursos que sustentam a promessa de pacificação das favelas do Rio de Janeiro. Fundamentado na Análise do Discurso materialista, o estudo desvenda a promessa como mecanismo discursivo de um compromisso assumido juridicamente. Ao mobilizar saberes relacionados aos estudos performativos, a obra desconstrói as condições de felicidade associadas ao ato de fala “prometer”, expondo seu funcionamento político e problematizando sentidos reducionistas atribuídos às favelas. Observando o entrelaçar de efeitos de promessa e ameaça, a análise revela a tensa relação entre Estado e favela, marcada pela memória histórica de apartação e pelo racismo estrutural. Com uma análise contundente, este livro desafia o leitor a se aprofundar no funcionamento da linguagem e a refletir sobre as dinâmicas de exclusão que estruturam a relação entre cidade e favela, convidando-o a um olhar mais crítico sobre essas questões.
Esta obra procura compreender, analisar e interpretar o pensamento do compositor italiano Boris Porena, em particular a problemática da aprendizagem de música na escola de Educação Básica. Depois de apresentar um breve perfil do compositor (com foco em aspectos biográfi cos e na obra ensaística), Samuel Campos de Pontes parte para a análise do que Boris Porena chama de Hipótese Metacultural e dos aspectos importantes para o desenvolvimento desse conceito, com foco nos processos de aprendizagem e nas particularidades da música dentro desse universo. O autor trata, em seguida, de aspectos que se referem a possíveis conexões entre o pensamento de Porena e a educação musical brasileira dos dias atuais. Ao fim, esse diálogo não estaria completo sem a leitura da série de cartas Vita die Martis, transcrita na íntegra no último apêndice desta publicação. Este livro é, portanto, um convite para que leitores interessados pela intersecção entre música e educação entrem no diálogo com esse importante compositor e pensador da cultura e da educação.
Os estudos de casos, escritos ou, modernamente, em vídeo, são utilizados para a formação profissional, como medicina, direito, negócios e outras atividades. Na formação de professores, um caso é usado em sala de aula para aprimorar o estudo do ensino de alguma disciplina e/ou de determinada prática de ensino relacionado a tópicos conhecidos por serem difíceis de lidar por envolverem dilemas. A docência em ciências demanda de professores a capacidade de lidar com a multiplicidade de fatores presentes no contexto escolar. Desde questões comportamentais até a consideração das identidades de gênero de alunos, a singularidade e a complexidade da realidade em sala de aula exigem novas abordagens formativas. Neste livro, encontram-se onze casos relacionados ao ensino de Química, produzidos por pós-graduandos e professores brasileiros, sob orientação e revisão de docentes da Harvard e da Unesp. Esperamos que esses casos – com dilemas, histórias e lições – sirvam como material de apoio para melhorar a formação de professores de Ciências e, mais especificamente, os professores de Química.
Atribui-se ao arquiteto neoclássico prussiano Karl Friedrich Schinkel (1781-1841) o apelo à criação de um estilo próprio da modernidade em vez da imitação do passado. O historiador da arquitetura Reyner Banham (1922-1988) considerava a arquitetura moderna um estilo por não seguir a mudança incessante que lhe ditava a tecnologia. Entre a participação modesta na teoria da arquitetura anterior a Schinkel e a ação de uma entidade cultural, tão importante quanto o Deutscher Werkbund (1907), pela criação do design e da arquitetura modernos, a Alemanha tornou-se ativa na teoria arquitetônica. Se houve repercussão tanto do materialismo estético, como de várias doutrinas da estética filosófica, nem por isso deixou de haver teorias próprias do estilo arquitetônico, como as de Bötticher e Semper, que introduziram o espaço arquitetônico como problema a ser tratado pela escola formalista em história da arte. Neste livro, Marcos Faccioli Gabriel procura tornar os debates das vanguardas, dentro e ao redor do Deutscher Werkbund, mais transparentes e mais ricos em matizes, como o discurso tardio do crítico da arquitetura Sigfried Giedion por uma Nova Monumentalidade.
A ideia de paisagem pode remeter à interação entre o ser humano e a natureza da Terra, associada à emergência de um inumano, que encontraria na imaginação poética sua fonte de expressão. Nesse sentido, a paisagem, por um lado, não teria lugar nas grandes cidades, senão em áreas excepcionalmente reservadas a ela e sob formas domesticadas da natureza. Por outro lado, caberia interrogar sua ocorrência em espaços residuais ou desfuncionalizados, que escapam às intenções de controle e amansamento. Para detectar indícios originários do natural que perfaz as cidades, este livro investiga oportunidades de fruição da paisagem em interstícios urbanos e explora maneiras de expressar essa experiência, assumindo a impossibilidade de sua reconstrução integral ou de sua representação mimética. O olhar se dirige a desvãos da cidade de São Paulo, para identificar insinuações das matérias que se ocultam. Para tanto, são cotejados diferentes meios de expressão alusivos aos horizontes inconclusos da paisagem e àquilo que, para além da racionalidade estrita, mobiliza imagens poéticas.
Os onze ensaios aqui reunidos abordam diferentes facetas da discussão sobre o fazer de atores e atrizes. Produzidos entre 2017 e 2023, pretendem desenhar uma teoria da atuação que dialogue com outras instâncias da teoria teatral – história, estética, crítica, metodologia, processos criativos e pedagogia – ao mesmo tempo que se distanciem de uma pretensão universalizante. Examinando a arte atoral em contracenação com outras funções da criação cênica (direção, dramaturgia, recepção e ensino-aprendizado), os textos refletem a experiência de atuação no Brasil contemporâneo. Nutridos pela curiosidade sobre o que transborda as fronteiras das relações entre os saberes canônicos da tradição euro-ocidental, a problemática das matrizes de atuação modernas e as reinvenções nacionais na perspectiva das poéticas atorais, estes escritos abrem fissuras na discursividade crítica sobre a cena, diante de enunciações que emergem em atrito com o já estabelecido.
Este livro revisita a trajetória de pesquisa e extensão desenvolvida por Débora Cristina Fonseca no campo da socioeducação com jovens pobres, marcados pelo fracasso escolar e pela exclusão, para discutir as potencialidades da escola frente à defesa de direitos humanos. A autora analisa as contradições do sistema educacional, socioeducativo e sociopenal e as formas perversas de culpabilização e eliminação daqueles que não se enquadram no modelo neoliberal de constituição da subjetividade. As reflexões apresentadas ao longo dos capítulos estão amparadas nos pressupostos da teoria sócio-histórica e têm como base a teoria vigotskiana e a compreesão dos processos de escolarização. A autora também apresenta o conceito de Educação em Direitos Humanos e suas possibilidades de transforma-ação do cotidiano escolar, oferecendo subsídios para o trabalho pedagógico em todos os níveis de ensino e indicando os caminhos para o desenvolvimento de sujeitos capazes de lutar por seus direitos e para a atuação preventiva contra os processos de abandono e exclusão escolar.