“A história é a construção de uma identidade que não acaba”, afirma Laurentino Gomes

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Laurentino Gomes e Paulo Werneck

“Há uma tentação totalitária pairando no ar, um clima de intolerância, que se sente nas redes sociais. Algo contra a pluralidade e a liberdade de expressão”, avalia o jornalista e escritor Laurentino Gomes sobre o momento atual. Ele foi o convidado do Encontro com os escritores, realizado na quarta-feira, 30 de novembro, na Universidade do Livro, braço educacional da Fundação Editora da Unesp. 

No encontro, mediado pelo jornalista Paulo Werneck, Laurentino Gomes falou como surgiu o projeto da trilogia 1808, 1822 e 1889. “Eu ainda trabalhava na Editora Abril e fizemos um projeto para cinco especiais da Veja, sobre momentos históricos do Brasil, começando com o descobrimento. O projeto não vingou, mas eu já tinha começado a pesquisar sobre o assunto e resolvi escrever um livro por conta própria”, disse. O livro 1808 foi escrito nos finais de semana e à noite, enquanto ainda trabalhava na Abril. “Foi tranquilo e gostoso”, lembrou. Foi publicado em 2007 e, para sua surpresa, foi um sucesso. “Foi na Bienal daquele ano, que o editor virou para mim e disse: seu livro está vendendo que nem pãozinho de manhã em padaria”. Virou celebridade. Pediu demissão e resolveu dedicar-se ao segundo título. “E aí foi um sofrimento. Não conseguia mais escrever. Precisei fazer terapia”. Mas saiu 1822 que, segundo o autor, foi o livro mais difícil de escrever. 

Durante o bate-papo, que contou com a participação da plateia, Laurentino relatou detalhes sobre sua infância, em Maringá, e da influência de seu pai que, apesar da pouca escolaridade, marcou sua formação como leitor. Cafeicultor, lia livros de história para o filho nos intervalos de almoço na roça. 

Dos 11 aos 13 anos, estudou em seminário católico, onde teve a oportunidade de mergulhar na literatura de fato. “Lembro-me que fiquei extremamente incomodado com A metamorfose, de KafKa”. “Adoro ler, mais do que escrever”, relata. Ele mesmo faz sozinho toda a pesquisa e coleta de dados, bem como visita os locais que descreve. 

Neste ano, acompanhou a Portugal um grupo de 100 estudantes de escolas públicas que venceram um concurso de releitura de um de seus livros em forma de arte. “Foi uma das maiores emoções de minha vida. Jovens carentes, que nunca tinham saído de suas cidades, viajaram comigo, e, no final, me fizeram uma homenagem. Literalmente, fui às lágrimas.” 

Para quem pretende ser escritor, deu dicas a partir de seu próprio processo de criação: ele primeiro escolhe uma data ícone; um subtítulo atraente; desenvolve capítulos não muito longos; usa tipologia não muito pequena; utiliza fotos; balanceia dados numéricos, personagens, cenários e acontecimentos; cada capítulo pode ser lido praticamente de modo independente, de maneira que o mesmo objeto seja tratado por ângulos diversos, não cronologicamente. “Apesar de ler e reler o texto muitas vezes, eu mesmo não vejo muitos erros de português e até mesmo de informações”, reconhece. “Por isso, o trabalho do editor é fundamental”, afirma. 

Está agora envolvido em seu próximo lançamento, sobre escravidão. O título: Uma história da escravidão. E enfatiza que o artigo é indefinido mesmo, pois não se trata de “a” única história da escravidão. “Parto da premissa que não existem verdades absolutas quando se trata de personagens e acontecimentos reais, pois a história continua mudando conforme vão sendo projetadas novas crenças e interpretações sobre o passado.” 

Fotos do evento estão disponíveis na página do Universidade do Livro no Facebook. Clique aqui para o álbum.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp