A mulher, segundo os iluministas

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segunda-feira, 7 de março de 2016

Mulher
Imagem: Dessein, les Ages [Desenho, as idades] -  Enciclopédia - Volume 5 [página 401]

Mulher (Moral), Desmahis [6, 472]

Verbete integrante da Enciclopédia - Volume 5, de Diderot e d'Alembert, organização Pedro Paulo Pimenta e Maria das Graças de Souza. São Paulo: Editora Unesp, 2015, págs. 118-119. É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

O nome mulher, por si só, toca a alma, mas nem sempre a eleva. Ele faz nascer somente ideias agradáveis, que, no instante seguinte, tornam-se sensações inquietantes ou sentimentos ternos; e o filósofo que acredita contemplar, logo não passa de um homem que deseja ou um amante que sonha.

Uma mulher se fazia pintar; o que lhe faltava para ser bela era precisamente o que a tornava bonita. Ela queria que se aumentasse a sua beleza sem tirar nada de suas graças. Queria tudo ao mesmo tempo, que o pintor fosse infiel e que o retrato fosse semelhante. Eis o que todas serão para o escritor que deve falar delas.

Essa metade do gênero humano, comparada fisicamente à outra, é superior em encantos e inferior em força. A curva das formas, a fineza dos traços, o brilho do semblante, eis seus atributos distintivos.

As mulheres não diferem menos dos homens pelo coração e pelo espírito do que pelo tamanho e pela figura. Mas a educação modificou suas disposições naturais de tantos modos, a dissimulação, que parece-lhes ser um dever de estado, tornou a alma delas tão secreta, as exceções tão numerosas, tão confusas com as generalidades, que, quanto mais observações se fazem, menos resultados se encontram. 

Ocorre na alma das mulheres o mesmo que acontece com sua beleza; parece que elas só se fazem perceber para deixar imaginar. Isso se dá tanto nos caracteres gerais quanto nas cores; há primitivas, há cambiantes; para passar de uma a outra, há infinitas nuances. As mulheres não possuem caracteres mistos, intermediários ou variáveis, seja porque a educação altera mais sua natureza do que a nossa, seja porque a delicadeza de sua organização faz de sua alma um gelo que recebe os objetos, apresenta-os vivamente e não conserva nenhum deles.

Quem pode definir as mulheres? Na verdade, tudo fala nelas, mas numa linguagem equívoca. Aquela que parece mais indiferente é, por vezes, a mais sensível; a mais indiscreta passa sempre pela mais falsa; sempre prevenidos, o amor ou o despeito dita os juízos que fazemos delas; e o espírito mais livre, aquele que mais estudos tem, ao acreditar resolver problemas, não faz mais do que propor novos. Há três coisas, dizia um pedante, que sempre amei muito sem nada compreender: a pintura, a música e as mulheres. (...)

Trecho inicial do verbete Mulher, escrito pelo dramaturgo francês Joseph Francis Edward de Corsembleu Desmahis (1722–1761).

Assessoria de imprensa da Fundação Editora da Unesp