A visão de Hume sobre a origem da necessidade humana de religião

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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A tendência em acreditar em poderes que estão além de sua compreensão faz parte, segundo David Hume, da natureza humana. Esta constatação o faz pensar em uma narrativa histórica e filosófica não determinada pela ideia de Deus, mas como manifestação do engenho humano. Se com Investigações sobre o entendimento humano – livro que despertou Kant de seu “sono dogmático” – Hume parte em busca de uma filosofia tão rigorosa e precisa quanto a física newtoniana, em História natural da religião, lançado em 2005 e que acaba de ganhar nova tiragem, o filósofo escocês reflete sobre os efeitos das diferentes religiões sobre a moralidade e a tolerância. 

Este livro é uma profunda reflexão sobre os princípios que dão origem à crença original e como o contexto histórico, cultural e social influencia e é influenciado pelas disposições morais e filosóficas do ser humano. Ou seja, quer encontrar justamente as “origens e das causas que produzem o fenômeno da religião, dos seus efeitos sobre a vida e a conduta humanas, e das variações cíclicas entre o politeísmo e o monoteísmo”, como nota Jaimir Conte na apresentação a esta tradução. 

Em um processo análogo ao desenvolvimento social, uma divindade principal, pouco a pouco, começa a predominar, recebendo cada vez mais atenção e deixando as demais em segundo plano. Aqui, ainda encontramos a visão antropomorfa, que penetra nos rituais e práticas católicas e maometanas, mas já é dominante a concepção de um deus uno, infinito e totalmente espiritual. Hume reflete sobre como cada modo de conceber a divindade altera as disposições sociais (o “politeísmo, ao alegar que não há uma só verdade sobre um deus único, é mais tolerante que o monoteísmo”) e filosóficas (“o monoteísmo atrai facilmente a defesa filosófica mas, por sua vez, torna a filosofia sua serva”). 

Seu percurso o leva a perguntar “o que há de mais puro do que certo grau de moral incluído em certos sistemas teológicos? O que há de tão corrupto quanto certas práticas às quais estes sistemas dão origem?”. Dúvidas que devemos manter em toda investigação sobre a necessidade vital do homem de explicar a natureza inexplicável, ainda mais em um momento em que a religião volta a definir os rumos dos debates geopolíticos mundiais e a intolerância ao Outro assume um papel fundamental na formação das identidades culturais. Afinal, se a compreensão de que “o bem e o mal se misturam e se confundem universalmente, assim como a felicidade e a miséria, a sabedoria e a loucura, a virtude e o vício” era algo audaz para o século XVIII, temos que suas implicações ainda não foram totalmente absorvidas pelo homem contemporâneo.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp