Adorno expõe crítica contundente à ontologia heideggeriana em curso que virou livro e é publicado pela primeira vez no Brasil

Preleções de 1960-1961 revelam embates filosóficos que antecedem a Dialética negativa e mostram a centralidade da crítica adorniana ao "ser" de Heidegger

Qual a ligação entre o conteúdo filosófico de Heidegger e suas implicações políticas? É possível dissociar a ontologia fundamental do filósofo alemão de sua trajetória no nazismo? Em Ontologia e dialética (1960-1961), lançamento da Editora Unesp, Theodor W. Adorno ilumina estas questões por meio de suas preleções na Universidade de Frankfurt. Este curso fundamental, que antecipa a Parte I de sua monumental Dialética negativa, revela como a própria estrutura da ontologia heideggeriana – que Adorno desmascara como uma "ontologização do ôntico" e uma "mistificação do Ser" – se presta a perigosas derivações ideológicas.

“As lições que o leitor tem em mãos constituem a exposição mais ampla e detalhada da crítica realizada por Adorno às correntes ontológicas alemãs do século XX, em particular à ontologia fundamental heideggeriana”, explicam os tradutores da obra ao português Daniel Pucciarelli e Luiz Philipe de Caux, no posfácio à edição brasileira. “Desde o fim da década de 1950, vários dos cursos expositivos de Adorno na Universidade de Frankfurt são dedicados a temas que correspondem direta ou indiretamente a futuros capítulos da Dialética negativa, publicada em 1966. Dentre eles, o curso do semestre de inverno de 1960-1961, de título Ontologia e dialética, representa o laboratório de experimentação no qual o pensamento vivo de Adorno afia seus instrumentos, testa argumentos e aprimora as formulações”, complementam.

A obra, organizada por Rolf Tiedemann e publicada agora pela primeira vez em português, apresenta o pensamento vivo de Adorno em seu processo mais didático, acessível e direto: o da exposição oral. Trata-se do “livro que Adorno não escreveu” sobre Heidegger, estruturado como uma crítica filosófica profunda que transcende a mera denúncia política. Adorno investiga as bases conceituais da ontologia heideggeriana, expondo como sua suposta "neutralidade" e "profundidade" se apoiam na hipóstase de um "ser" vazio e tautológico – uma "verdadeira nulidade" – destituído de conteúdo concreto. Ele revela como a linguagem heideggeriana, ao invés de buscar clareza, intencionalmente oculta essa vacuidade por meio de um "jargão da autenticidade", revestindo o abstrato com uma "aura" mítica e arcaizante, regressiva em sua pretensão de origem. Adorno demonstra a conexão intrínseca entre essa arquitetura teórica e a vulnerabilidade a ideologias autoritárias, como o nazismo.

Essas aulas se consolidam como o registro mais extenso da crítica adorniana às correntes ontológicas alemãs do século XX. A publicação preserva a oralidade das conferências ministradas por Adorno, revelando não apenas seus argumentos centrais, mas também seu empenho pedagógico em desvelar as tensões entre ontologia e dialética — entre ser, existência e a "não identidade" constitutiva da realidade. Adorno demonstra como a promessa de sentido da ontologia heideggeriana é, na verdade, uma "solução" ilusória para a "carência ontológica" de uma sociedade reificada, que busca apoio em um "ser" que, em sua abstração, oferece apenas a ilusão de substância. Com esse lançamento, ganha o leitor interessado em filosofia contemporânea, teoria crítica e história do pensamento europeu.

Sobre o autor - Theodor W. Adorno (1903-1969) foi um filósofo alemão e um dos principais teóricos da cultura. Fez parte da corrente conhecida como Escola de Frankfurt, ao lado de Max Horkheimer, Walter Benjamin e Jürgen Habermas.

Sobre o organizador - Rolf Tiedemann (1932-2018) foi um filósofo, filólogo e editor alemão. Foi orientando de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. A partir de 1959, foi pesquisador associado e, posteriormente, assistente pessoal de Adorno no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt. Foi o editor das obras completas de Adorno e diretor do Arquivo Theodor W. Adorno em Frankfurt.  

Título: Ontologia e dialética (1960-1961)
Autor: Theodor W. Adorno
Organização: Rolf Tiedemann
Tradução: Daniel Pucciarelli, Luiz Philipe de Caux  
Número de páginas: 557
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 118
ISBN: 978-65-5711-284-7

Para não perder nenhuma novidade, siga a Editora Unesp no Facebook, Instagram, TikTok e inscreva-se em seu canal no YouTube.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
imprensa.editora@unesp.br