Escritor - que pincela obras com ocorrências de sua própria biografia - evoca o arquétipo do amor juvenil presente em Romeu e Julieta, acompanhando apaixonados que enfrentam oposição familiar
Uma das mais extravagantes figuras das letras portuguesas do século XIX, Camilo Castelo Branco produziu farta obra escrita em seus mais diversos formatos: poemas, contos, novelas, peças de teatro e romances, sendo o primeiro autor em língua portuguesa a dedicar-se apenas ao ofício literário. Sua biografia, marcada por acontecimentos dramáticos e amores impossíveis, impregna suas narrativas, sobretudo o romance mais importante: Amor de perdição: memórias d’uma família, que chega em edição renovada pela Editora Unesp como parte da Coleção Clássicos da Literatura Unesp.
Escrita em 1861 – em apenas quinze dias, período em que o autor, condenado por adultério, se encontrava preso na Cadeia da Relação, na cidade do Porto –, a narrativa evoca o arquétipo do amor juvenil presente em Romeu e Julieta. Como na tragédia shakespeariana, a obra acompanha o romance de dois jovens apaixonados que enfrentam como barreira para a realização amorosa a rivalidade entre suas famílias.
O narrador diz contar fatos ocorridos com seu tio Simão. A história se passa nos primeiros anos do século XIX, em Viseu, cidade localizada na região do Centro de Portugal. Simão Botelho, filho rebelde de uma família burguesa, apaixona-se perdidamente por sua vizinha, a bela Teresa de Albuquerque. A paixão pacifica o caráter irascível do jovem, para quem o amor se torna o bem mais valoroso. A relação entre os dois, entretanto, é interditada, pois os jovens pertencem a famílias inimigas, que se odeiam por causa de um litígio: o corregedor Domingos Botelho havia dado um ganho de causa contrário aos interesses dos Albuquerque. Descoberto o romance entre os jovens, o corregedor envia Simão para Coimbra e, para Teresa, a família oferece duas opções: casar-se com o primo Baltasar ou ir para o convento. Proibidos de se encontrar, os jovens trocam correspondências, graças à conivência de Mariana, personagem que encarna o amor romântico abnegado: secretamente apaixonada por Simão, Mariana sabe, entretanto, que jamais será correspondida. Estabelece-se, desse modo, um triângulo amoroso bem ao gosto do romantismo: a paixão que anima os três personagens cresce com os obstáculos e passa a ser assombrada pela possibilidade de um destino trágico.
Conciso, lírico e violento, Amor de perdição é uma das obras mais importantes do Romantismo português, traduzida para diversas línguas e adaptada inúmeras vezes para o teatro e o cinema. Por sua recepção, percebe-se que o texto cumpre a função imaginada pelo autor. “Estou quase convencido de que o romance, tendendo a apelar da iníqua sentença, que o condena a fulgir e apagar-se, tem de firmar sua duração em alguma espécie de utilidade, tal como o estudo da alma, ou a pureza do dizer”, escreve no prefácio à segunda edição, em 1863. ”Nos quinze atormentados dias em que o escrevi, faleceu-me o vagar e contenção que requer o acepilhar e brunir períodos. O que eu queria era afogar as horas, e afogar talvez a necessidade de vender o meu tempo, as minhas meditações silenciosas, e o direito de me espreguiçar como toda a gente, e o prazer ainda de ser tão lustroso na linguagem, quanto, em diversas circunstâncias, podia ser.”
Sobre a coleção – Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Confira aqui as obras já publicadas.
Título: Amor de perdição: memórias d’uma família
Autor: Camilo Castelo Branco
Número de páginas: 200
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 45
ISBN: 978-65-5711-071-3