Sociólogo explica essa anomalia social e moral no contexto brasileiro no período pós-escravista
A anomalia social e moral da persistência e repetição ampliada da escravidão no Brasil ainda neste primeiro quarto do novo século é um desafio sociológico que pede, com urgência, explicação científica. É o que se propõe o sociólogo José de Souza Martins em Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista, que acaba de ganhar nova impressão: desvendá-la e explicá-la com base na informação empírica já abundante sobre o tema da continuidade disfarçada da escravidão.
“O tema da chamada ‘escravidão contemporânea’, no Brasil, não significa a mesma coisa em diferentes bocas e em diferentes escritos. Nem mesmo significa sempre propriamente escravidão. E nem sempre é apresentado em perspectiva propriamente científica. Mesmo em estudos acadêmicos, são muitas as incertezas conceituais e são frequentes as tentações do mero denuncismo em si, sem penetrar nas causas, fatores, consequências sociais e funções econômicas de sua ocorrência e persistência no capitalismo subdesenvolvido”, escreve Martins. “Diferentemente do que pode pressupor o senso comum, mesmo de pessoas e instituições empenhadas, por ímpeto de justiça, em combatê-la, a escravidão contemporânea não é expressão casual de uma maldade, de uma esperteza de quem a pratica, de um desconhecimento do que ela propriamente é – um crime.”
Embora a Lei Áurea tenha abolido legalmente a escravidão, o Brasil, ao conceder a liberdade, falhou em compreender que ela seria vazia sem reformas sociais para superar os fatores que escravizam os seres humanos. Antes mesmo da promulgação da lei, novas formas de cativeiro surgiram, como trabalho livre apenas nominal, dentro do contexto da escravidão, e persistem até os dias de hoje. Isso reflete o modelo brasileiro de capitalismo, que requer violência e violações da lei para subjugar o trabalho, recriando a violência da escravidão para sustentar o ciclo reprodutivo do capital.
Este livro se alinha à tradição da sociologia crítica e do método dialético, associados à formação de uma consciência científica da realidade social. Não é um livro de história, mas uma obra de sociologia da historicidade da escravidão, explorando como a escravidão moldou as peculiaridades da formação da sociedade, persistindo e renovando-se no Brasil contemporâneo.
O desafio do autor é explicar sociologicamente essa escravidão fora de lugar, retornando ao método dialético da definição marxiana, científico e não ideológico. Ele busca compreender as contradições das transformações sociais com reiterações sociais, investigando as causas, os fatores e os enganosos motivos do subdesenvolvimento capitalista na falsa consciência que, em nosso contexto, confere legitimidade ao que não é legítimo.
Para não perder nenhuma novidade, siga a Editora Unesp no Facebook, Instagram, TikTok e inscreva-se em seu canal no YouTube.
Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
imprensa.editora@unesp.br