Por Luiz Joaquim
Em março último, a editora Unesp e a Casa Guilherme de Almeida deram um presente valioso a estudiosos de cinema, pesquisadores, ou mesmo apenas curiosos sobre a perspectiva dessa arte que ainda estava procurando entender a si própria, e qual era o seu lugar no mundo na primeira metade do século passado.
Trata-se do livro Cinematographos: Antologia da crítica cinematográfica (Casa Guilherme de Almeida/Unesp, 679 págs.). Um belo trabalho de resgate da produção crítica/crônica sobre cinema produzida pelo poeta modernista, advogado e jornalista Guilherme de Almeida (1890-1969).
Suas palavras sobre o universo cinematográfico do Brasil e do mundo foram reunidas no livro com textos originalmente publicadas em O Estado de S. Paulo.
A pesada brochura reúne 218 textos escritos para a coluna de Guilherme de Almeida chamada Cinematographos. Ela teve início em 1926 e seguiu até 1942 – tendo sofrido uma mudança em sua nomenclatura em 1937 para apenas Cinema.
O grande tesouro contido neste livro está exatamente em oferecer o painel inspirado e atento posto por Almeida quanto às mudanças que o cinema mudo sofreu para o falado. E ainda, é interessante acessar e ler, pela escrita elegante do poeta, a percepção ainda quente pelo momento da novidade de obras que hoje são consagradas pela história, como por exemplo O Encouraçado Potemkin (1925) e Tempos modernos (1936), entre outros.
Junto com a evolução estética e técnica do cinema ao longo daqueles anos, os textos de Guilherme de Almeida vão nos guiando nessa invenção contínua de um produto que se reinventa o tempo inteiro.
É o caso da ideia da câmera subjetiva em Napoléon (1927), ou a chegada do som por O cantor de jazz (1927), quando Almeida vaticina sendo este “o documento inicial e básico de uma história que começa”; ou ainda o deslumbre pela aparição da cor nos 20 minutos do curta-metragem La cucaracha (1934); e ainda a grande experiência propiciada pela beleza da linguagem audiovisual proposta em Cidadão Kane (1941).
Para além do comentário sobre os filmes, Cinematógraphos também oferece escritos a partir da interação de Almeida com seus leitores fieis; aspectos curiosos sobre os freqüentadores de cinema daquela época; ou então sobre personalidades do meio, do mercado (com destaque para a já dominação de Hollywood sobre o circuito exibidor brasileiro); das características das salas de cinema, como o Theatro Santa Helena, na Praça de Sé, São Paulo; e da própria capital paulista com seu cenário frenético igual ao cinema de então.
A organização da coletânea foi resolvida pelo poeta, cineasta e doutorando em Estética e História da Arte, Donny Correia, com o poeta e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada, Marcelo Tápia.
*Esta resenha foi publicada originalmente pelo blog CinemaEscrito, em 31 de julho de 2016. Clique aqui e confira o link original.