Comer é um ato de múltiplos significados culturais e antropológicos
No ato de comer, há mais do que simplesmente a ingestão de nutrientes ou calorias: a alimentação envolve a execução de múltiplos significados culturais e antropológicos. E, para entender como essas relações se processam na alimentação, a seção Clássicos do Catálogo relembra a magistral obra de Paolo Rossi sobre o tema: Comer: Necessidade, desejo, obsessão.
Nesse estudo, ele investiga e descreve a inextricável mistura de sentimentos envolvidos no ato de alimentar-se – necessidade básica, desejo primal, obsessão patológica –, explorando as inúmeras nuances que o verbo comer assumiu na história da humanidade. A própria multiplicidade de metáforas alimentares empregadas no dia a dia de qualquer pessoa (“comer com os olhos”, “engolir um sapo”, devorar um livro”), sugere Rossi, é indicativa da miríade de desejos primários e emoções profundas que povoam o universo da alimentação.
Com elementos pinçados da história das ideias, ele constrói um mosaico de cenários e situações em que esses sentimentos se revelam. E mostra como é profunda a ligação entre o comer e a condição humana, e como, para além de satisfações fisiológicas, existem elos de ordem psíquica que resvalam na fronteira do plano mítico.
A pesquisa, atemporal, atravessa culturas e temas, como a fome em diferentes épocas e sociedades humanas, incluindo a contemporânea, aborda o jejum, a greve de fome, o canibalismo, o vampirismo, o serial killer, que transgride o maior dos tabus, ao devorar suas vítimas.