Produção científica: quantidade é qualidade? (Foto: Steven Ramirez/Flickr)
O que se considera uma produção científica prolífica: quantidade de páginas publicadas ou qualidade daquilo que vai impresso nelas? Pois acadêmicos de todo o mundo vêm-se queixando, não de hoje, que a produção de ciência tem sido medida mais pelo números de publicações do que pelo seu conteúdo. É o mesmo assunto sobre o qual o historiador Lindsay Waters se debruça em Inimigos da esperança: Publicar, perecer e o eclipse da erudição, escolha da seção Clássicos do catálogo desta semana.
A crise do saber científico, em especial da produção acadêmica na área de humanidades, é a questão central que o autor aborda, sempre de um ponto de vista múltiplo: do público, da sociedade, dos professores e estudantes das universidades, dos bibliotecários.
Defesa enfática dos livros, Inimigos da esperança questiona o aumento constante dos títulos publicados. E segue abordando de maneira clara o que está em jogo no mundo acadêmico hoje. Um chamado às armas em defesa da erudição. E os tais “inimigos da esperança” são claramente identificados: a classe administrativa que transforma a cultura acadêmica em algo homogêneo e, em sincronia com o mercado, valoriza exclusivamente o aspecto quantitativo; a terceirização do processo de avaliação, relegando às editoras universitárias o trabalho dos departamentos da universidade, já que a maior parte dos professores se sente incapaz de julgar o trabalho de seus pares; e o conformismo que reforça o corporativismo universitário e dificulta a inovação.
Comparando os abusos do sistema de publicação universitária com os do correio eletrônico (spams) e a telefonia (telemarketing), Waters fala da necessidade de uma reformulação que acabe com a “ditadura da contagem de produção”. Avançando para a relação entre pensamento, erudição e publicação, realiza uma ampla e contundente crítica em relação ao panorama acadêmico atual, levantando questões polêmicas sistematicamente evitadas pela comunidade acadêmica. E o faz por sentir que a dinâmica da publicação acadêmica, se não confrontada, levará a um processo autodestrutivo que envolverá a produção acadêmica e, por fim, a própria ideia de trabalho intelectual.
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