Confira o conceito de "esfera pública", de acordo com Giddens e Sutton

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terça-feira, 26 de abril de 2016

Imagem: Jürgen Habermas, no ano de 2007

ESFERA PÚBLICA

Definição prática

Arena da discussão e do debate público nas sociedades modernas, podendo ser espaços formais e informais.

Origens do conceito

As democracias modernas se desenvolveram junto com a mídia de massa, sobretudo jornais, panfletos e outras publicações. Em um sentido bastante real, a mídia de massa possibilitou e estimulou a cultura democrática. A esfera pública surgiu nos salões e cafés dos séculos XVII e XVIII em Londres e Paris, bem como em outras cidades europeias, onde as pessoas se encontravam para discutir os assuntos do dia. Embora apenas uma pequena parcela da população estivesse envolvida nessa cultura, essas pessoas foram vitais para o desenvolvimento inicial da democracia porque os salões introduziram a ideia de solução de problemas políticos por meio do debate público. Hoje em dia, a mídia de massa é vista negativamente como algo que trivializou o processo democrático e criou um clima de hostilidade geral em relação à política. Como aconteceu uma mudança tão radical e será que ela pode ser revertida? A figura-chave nos debates sobre a esfera pública é o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas,que se aprofundou em temas da Escola de Frankfurt em diversas direções, com base em seus estudos da linguagem e do processo de democratização. Ele analisou o surgimento e o desenvolvimento da mídia de massa a partir do início do século XVIII até os dias de hoje, traçando a criação e a posterior decadência da “esfera pública”.

Significado e interpretação

Para Habermas (1989 [1962]), a esfera pública é uma arena de debate público em que os assuntos de interesse geral podem ser discutidos e as opiniões podem ser formadas, o que é necessário para a efetiva participação democrática e para o processo democrático. A esfera pública – pelo menos, em princípio – envolve a reunião de indivíduos igualitariamente em um fórum para o debate público. Contudo, a promessa do desenvolvimento inicial da esfera pública não se concretizou por completo. O debate democrático nas sociedades modernas agora é sufocado pelo desenvolvimento da indústria da cultura. A disseminação da mídia de massa e do entretenimento de massa faz que a esfera pública definhe. Apolítica é manipulada no parlamento e na mídia de massa, enquanto os interesses comerciais dominam. A “opinião pública” não é formada por discussões abertas e racionais, mas por meio da manipulação e do controle – por exemplo, na publicidade. Por outro lado, a difusão da mídia global é capaz de pressionar governos autoritários a soltarem as rédeas das grandes emissoras estatais e muitas sociedades “fechadas” como a China estão descobrindo que a mídia pode se tornar uma força poderosa no apoio da democracia. 

Entretanto, conforme se torna cada vez mais comercializada, a mídia global invade a esfera pública da forma descrita por Habermas. A mídia comercializada fica refém do poder da renda de publicidade e forçada a favorecer conteúdos que assegurem elevados índices e vendas.Como resultado, o entretenimento necessariamente triunfará sobre a polêmica e o debate, enfraquecendo a participação do cidadão nas questões públicas e atrofiando a esfera pública. A mídia, que tanto prometia,agora é parte do problema. Mas Habermas continua otimista, afirmando que ainda é possível vislumbrar uma comunidade política para além dos Estados-nação individuais em que os problemas podem ser discutidos abertamente e onde a opinião pública influenciará os governos.

Richard Sennett (2003 [1977]) afirmava também que as esferas privada e pública se separaram, tanto fisicamente – com a construção de propriedades residenciais individuais, ambientes de trabalho e locais de lazer (inclusive os shopping centers) –, como filosoficamente – no modo como pensamos sobre a nossa vida privada individual, por exemplo.No entanto, para ele a esfera privada tende a canalizar – ou dominar – a esfera pública de modo que, por exemplo, os políticos sejam agora mais julgados por suas características pessoais, como honestidade e sinceridade,em vez de sua capacidade de desempenhar uma função pública.O advento da moderna mídia visual, sobretudo a televisão, resultou em uma apresentação altamente desenvolvida do eu [self] por figuras políticas cujo objetivo é atender essas expectativas de suas personalidades. Para Sennett, isso destrói a efetiva vida política e representa a decadência do cargo público marcado pelo comprometimento.

*Excerto do termo Esfera pública, presente no livro Conceitos essenciais da Sociologia, de Anthony Giddens e Philip W. Sutton. O verbete também contempla outros tópicos, como aspectos controversos, relevância contínua e referências e leituras complementares. Os termos grifados em negrito são conceitos abordados na obra.