Ao revisitar temas caros em sua trajetória crítica, ele ajusta as lentes para articular um potente repertório crítico, acrescentando novas camadas de problematização sobre a fortuna crítica dos autores desses livros
Há quase seis décadas, Luiz Costa Lima tem oferecido contribuições referenciais no campo dos estudos literários brasileiros. Se em Terra ignota: A construção de 'Os sertões', livro de 2017, o autor desbravava criticamente o grande clássico de Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos, fazia-o questionando a dimensão literária sob a qual ele sempre foi lido. O Brasil então e agora, lançamento da Editora Unesp, propõe uma análise complementar àquela leitura: as observações atentas de Costa Lima o levam a concluir que a qualidade da escrita de Os sertões simplesmente catapultou Euclides da Cunha ao panteão dos escritores, extrapolando a perspectiva científica do relato.
Ou seja: segundo o crítico, Euclides sinalizaria ali mais uma compreensão (pseudo)evolucionista do país – dado que os tipos sertanejos retratados personificariam a inferioridade de negros e índios em relação ao homem branco – do que uma ambição em cavar lugar nas belas-letras com suas frases impecáveis e os aspectos poéticos com que pinta a paisagem do sertão. Trata-se de mais um trabalho de Costa Lima que, invariavelmente, propõe perspectivas renovadas sobre um tema que nunca esgota seu interesse, a despeito da aparente simplicidade: a essência literária.
Costa Lima, porém, não se limita a esmiuçar Os sertões de forma isolada. Complexificando sua abordagem, envereda pelo universo de Gilberto Freyre, cujo Casa-grande & senzala também é alvo de sua desconstrução crítica, lendo neste a mesma pretensão sociológica de “captar o quid nacional”, que embasaria o livro máximo de Euclides. Nessa empreitada, recorre a vasto arsenal de referências que vão de Sílvio Romero a Dawid Bartelt, de “um quase ignorado” José Inácio de Abreu e Lima ao antropólogo germano-americano Franz Boas, que exerceu grande influência sobre Freyre, e de quem o autor traduz e inclui aqui um raro e contextualizante ensaio de 1933, “O ariano e o não ariano”.
“Diferentemente de autores cujas preocupações se alteram com a vida, tenho mantido constante o que era declarado pelo título de meu pequeno livro inicial: Por que literatura”, registra. “Sem embargo, uma mudança significativa sucederá em 1980: em Mímesis e modernidade, a procura por entender a peculiaridade do objeto a que dedicara minha atividade intelectual fez com que me concentrasse na pergunta sobre o que a mímesis passou a acentuar mais especificamente na modernidade. Uma prova concreta dessa modificação se me apresentou em data recente, quando voltei a ter acesso ao texto com que participei do VI Festival de Inverno de Ouro Preto (1972). Intitulado “As linguagens do Modernismo”, consta na reedição que Affonso Ávila dele fez em O Modernismo (1975).”
Sobre o autor
Luiz Costa Lima é crítico literário e professor emérito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Publicou importantes livros de ensaios, entre eles Mímesis e a modernidade (1980), Vida e mímesis (2000), O controle do imaginário e a afirmação do romance (2009) e Frestas: a teorização em um país periférico (2013). Pela Editora Unesp, publicou, em 2017, Melancolia: literatura; em 2021, O chão da mente: A pergunta pela ficção; e, em 2022, A ousadia do poema: Ensaios sobre a poesia moderna e contemporânea brasileira.
Título: O Brasil então e agora
Autor: Luiz Costa Lima
Número de páginas: 314
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 76
ISBN: 978-65-5711-186-4
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