Escritos em diferentes momentos, os ensaios presentes em Da Monarquia à República - 9ª edição, que acaba de ganhar nova impressão, traçam um panorama das raízes do processo de marginalização de amplos setores da população brasileira que perduram até os dias de hoje e revelam as causas da fraqueza das instituições democráticas e da ideologia liberal no Brasil. O livro demonstra que, a despeito das transformações ocorridas entre 1822, ano da Independência do Brasil, e 1889, quando foi proclamada a República, as estruturas da sociedade brasileira não se alteraram profundamente durante esse período. Fica evidente, nos estudos de Emília, a continuação de valores tradicionais elitistas, antidemocráticos e autoritários, bem como a sobrevivência de estruturas de mando em sistemas de clientela e patronagem.
Assumindo que dentro das determinações gerais do processo histórico há sempre uma relativa margem de liberdade, a autora evita as explicações mecanicistas, que apresentam os homens como vítimas de forças históricas incontroláveis. Com esse olhar, examina o comportamento das elites brasileiras e a intensa disputa de poder que marcou o período imperial brasileiro. A presença do herdeiro da Casa de Bragança no Brasil permitiu às elites alcançar a independência sem recorrer à mobilização das massas. No entanto, uma vez alcançado esse objetivo, a mesma elite competirá com o imperador pelo controle da nação, utilizando a bandeira do liberalismo como arma de oposição e instrumento de demolição das instituições coloniais obsoletas. Quando tomam o poder, entretanto, as oligarquias tornam-se conservadoras, perpetuando a economia agrária e a escravidão.