Editora Unesp 30 anos: Pietro Scola, leitor

Artigo
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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Pietro Scola, leitor

Como psicanalista, Adorno me ofereceu, especialmente no livro Ensaios sobre psicologia social e psicanáliseda Editora Unesp, um prisma de observação dialética entre o subjetivo e o objetivo, clínica e cotidiano, pois “A separação entre sociedade e psique é falsa consciência” (Adorno, 2015. p. 74). 

É frequente o cerne dos estados de sentimento de exclusão estarem enraizados nos aspectos econômicos que Adorno nomeou de medo [Angst]. Se, segundo ele, a existência plena de um homem significa tanto a existência orgânica quanto a possibilidade de uma auto sustentação econômica, há então uma mescla de medos entre a aniquilação física em si, e o medo da exclusão social ou moral que passa pelo viés de uma espécie de ditadura econômica, que não necessariamente diz o que você não pode consumir, mas diz exatamente o que deve ser consumido para pertencer a algum agrupamento, ficando deficitária a capacidade do sujeito de se olhar através do outro, ele então inicia um processo de dissociação no qual tem a sua capacidade de reconhecer a si mesmo reduzida.

Neste sentido, aprecio a fala de Adorno de que “Não por acaso a psicanálise foi concebida no âmbito da vida privada, dos conflitos familiares; economicamente falando, na esfera do consumo.” (Adorno, 2015. p. 86), Se na sociedade capitalista o consumo é contemplado sobre esse caráter narcisista, individualizado, triangulado, restrito e familiar, a psicanálise muitas vezes acaba impregnando-se desses traços, tomando o paciente em seu consultório como uma causa de si mesmo [causa sui], estudando-o de forma intrínseca com sua tríade: aparelho psíquico, relação de objeto e energia libidinal.

Adorno traz então, a possibilidade de o psicanalista atuar com um corte, mas não apenas no âmbito da palavra em si, mas o corte do ciclo da adaptação, ele lapida a psicanálise e nos traz uma contribuição fundamental ao indagar que: “o conceito do eu é dialético, psíquico e não psíquico, um fragmento da libido e o representante do mundo” (Adorno, 2015. p. 107).      

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp