Editora Unesp lamenta a morte de José Ramos Tinhorão

Notícia
Notícias
terça-feira, 10 de agosto de 2021

Historiador da música José Ramos Tinhorão
(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

A Fundação Editora da Unesp lamenta o falecimento do jornalista, escritor e historiador da música brasileira José Ramos Tinhorão, aos 93 anos de idade, no dia 3 de agosto.

"Pesquisador minucioso e de orientação marxista, Tinhorão era um dos principais críticos sobre a influência dos ritmos estadunidenses na música brasileira, especialmente o jazz norte-americano na Bossa Nova", comenta Victor Ohana, em obituário publicado na revista Carta Capital.

Autor de vasta obra, pela Editora Unesp Tinhorão publicou Festa de negro em devoção de branco: Do carnaval na procissão ao teatro no círio, obra que integra o filão temático que o escritor e pesquisador cultural e musical inaugurou em 1988, ao publicar, em Lisboa, Os negros em Portugal – Uma presença silenciosa. Aqui, ele amplia o foco da obra inicial – onde procura evidenciar que a colônia não era receptora exclusiva do tráfico negreiro – para captar a influência negra na cultura lusitana, algo que, afirma, os portugueses tentam “esquecer”.

Para isso, amparado em minuciosa pesquisa histórica, Tinhorão esmiúça os rituais católicos desde os primórdios, e explicita a participação dos negros nas procissões de Corpus Christi pelo menos a partir dos anos 1600. Ele demonstra nesta obra que os escravos africanos participavam dessas procissões em Portugal ao lado de outras minorias étnico-religiosas – como judeus, mouros e ciganos –, presentes nas confrarias de trabalhadores dos variados ofícios, as quais eram obrigadas a participar do cortejo oficial.

Tinhorão relaciona a estrutura das antigas procissões à das escolas de samba brasileiras, que emergiriam com suas alas coloridas quase seis séculos mais tarde. Tais como estas, as extensas procissões católicas dividiam-se em blocos, naquele caso para comportar as apresentações dos diferentes ofícios de trabalhadores, suas bandeiras, suas coreografias.

Com tais características, embora lembrasse os desfiles aristocráticos de carros alegóricos italianos dos Quatrocentos e o Teatro de Rua da Confraria da Paixão parisiense do século 15, conta Tinhorão, a procissão portuguesa distinguia-se por sua nítida formação popular. Nas palavras do autor, Festa de negro em devoção de branco comprova, enfim, que a diversidade étnico-cultural “pode conduzir a uma síntese original, quando as diferenças convergem para o que a história mostra como universal no homem: a vontade de viver a vida. Se possível como uma festa”.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
imprensa.editora@unesp.br