Maria Helena de Moura Neves na sede da Editora Unesp
A Editora Unesp, responsável pela publicação no Brasil da maior parte dos escritos da linguista Maria Helena de Moura Neves, lamenta profundamente sua morte ocorrida neste sábado, 17 de dezembro de 2022, aos 91 anos.
Professora emérita pela Universidade Estadual Paulista, professora aposentada voluntária do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas e professora permanente do Programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras, câmpus de Araraquara, ainda estava na ativa.
Era coordenadora do Grupo de Pesquisa Gramática de usos do português do CNPq, pesquisava particularmente a teoria funcionalista da linguagem, as relações entre texto e gramática e a história da gramática. Em 2014 foi professora visitante da University of Amsterdam e, em 2019, foi pesquisadora visitante da Università G. D'Annunzio, Chieti-Pescara, Itália.
Em 11 de fevereiro deste ano − Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência − recebeu, do Governo do Estado de São Paulo, o Prêmio Ester Sabino para Mulheres Cientistas na Categoria Sênior.
Com a Fundação Editora Unesp, manteve uma parceria por décadas, tendo ministrado vários cursos na Universidade do Livro e publicado os seguintes títulos:
Prêmio Abeu 2019: 1º lugar da categoria Linguística, Letras e Artes
Em um projeto ambicioso de pormenorização e exemplificação da diversidade possível dentro e ao largo do cânone linguístico, a obra possibilita ao leitor um mergulho mais profundo nos usos da língua explorados na primeira gramática, em especial os usos oriundos da linguagem falada. O projeto de Maria Helena de Moura Neves é levado a cabo com o auxílio de uma enorme profusão de exemplos, estudos de caso, que intermedeiam o contato do leitor com as formas referendadas pela gramática normativa e com aquelas que, não raro consideradas “desvios”, aos poucos, calcadas no uso, vão ganhando legitimidade.
Esta obra dirige-se a qualquer pessoa – estudante, profissional ou simples falante da língua portuguesa – que, em algum momento de desempenho linguístico, sinta algum tipo de dificuldade na formulação de seu enunciado. Atualizada conforme o novo acordo ortográfico e organizada a partir do exame de livros, jornais, revistas e peças teatrais contemporâneos, ela informa como está sendo usada a língua e, quando oportuno, as prescrições que a tradição vem repetindo. Partindo do princípio de que o uso pode contrariar a norma, e o falante tem liberdade de escolha, o livro lhe dá a conhecer os dois lados da questão: o modo como os manuais normativos dizem que “deve ser” o uso, e o modo como, realmente, ele “é”.
Esta é uma obra que parte da observação dos usos realmente correntes no Brasil, para, refletindo sobre eles, oferecer uma organização que sistematize esses usos. O que as lições fazem, portanto, é organizar numa gramática da língua portuguesa as possibilidades de construção que estão sendo aproveitadas pelos usuários para a obtenção dos efeitos de sentido pretendidos. Os capítulos se compõem segundo a tradicional divisão em classes de palavras, sem ser conhecedor do assunto, poderá situar-se na busca, para chegar ao que quer saber. Entretanto, princípios teóricos dirigem o tratamento das questões, o que se revela no agrupamento dessas classes pelas quatro grandes partes da obra, organizadas segundo os processos que dirigem a construção dos enunciados. Embora uma gramática de usos não seja, em princípio, normativa, em vista de maior utilidade ao consulente comum, normas de uso são invocadas comparativamente, para informar sobre restrições que tradicionalmente se fazem a determinados usos atestados e vivos.
Versão revisada do livro A vertente grega da gramática tradicional, de 1987, esgotado há muitos anos, título ao qual se acrescenta agora o subtítulo Uma visão do pensamento grego sobre a linguagem, que torna mais transparente o conteúdo da obra. Reedição que surge em um momento de efervescência das bases do ensino de gramática, discussão essencialmente centrada nas críticas à gramática tradicional, que muitas vezes remontam à emergência da disciplina gramatical na Grécia, e que, em geral, são nascidas de um desconhecimento das condições em que a disciplina surgiu. Essas condições é que são tratadas neste livro.
Ao discutir o que é a gramática e qual é o seu objeto de estudo, este livro valoriza os métodos próprios da investigação linguística e coloca ao leitor um problema fundamental: como é possível ensinar a gramática? Para discutir essa questão – que preocupa a todos os professores de Língua Portuguesa –, o livro esboça um horizonte fascinante em que encontramos a história do surgimento da disciplina gramatical no Ocidente, a relação entre a teoria linguística e a prática das investigações gramaticais e o ensino específico de gramática.