Émile Zola encarna a determinação inegociável dos intelectuais combativos em novo título da Coleção Clássicos da Literatura Unesp

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segunda-feira, 20 de março de 2023

Em A obra, acompanhamos uma confraria de amigos, todos idealistas e ligados ao universo artístico, determinada a instaurar um novo movimento estético para sacudir a França  

Foi em fins do século XIX que a palavra “intelectual” ganhou nova dimensão, passando a denominar o pensador que articula suas ideias no sentido de transformar a realidade em função de uma causa. E a semente disso talvez remonte ao famoso caso Dreyfus na França. Na ocasião, o já celebrado escritor Émile Zola acreditava na inocência do capitão condenado por compartilhar segredos militares franceses com a Alemanha, o que o motivou a redigir uma carta em defesa de Dreyfus, publicada em jornal. Pela impertinência, foi condenado à prisão e obrigado a fugir para a Inglaterra.

Essa atitude engajada do autor entrou para a história e deu outra dimensão ao papel daqueles que passariam a ser compreendidos como intelectuais. Corrigir injustiças, marcar posição, ajustar desequilíbrios: não por acaso, essas premissas sempre reverberariam na literatura engajada de Émile Zola, vistas em livros como O paraíso das damas (1883), e também neste A obra (1886), que talvez um tanto inesperadamente costuma desfrutar de menos visibilidade quando se evoca a bibliografia zolaniana, lacuna que este novo volume da Coleção Clássicos da Literatura Unesp pretende mitigar no Brasil.

O livro, ambientado na Paris do final do século XIX em toda sua efervescência cultural, acompanha uma confraria de amigos, todos ligados ao universo artístico: pintores, escritores, literatos em geral, arquitetos. Esses idealistas estão determinados a instaurar um novo movimento estético para sacudir o anacronismo e a estagnação geral do establishment francês.

“O retrato do artista quando jovem é personificado no protagonista, Claude, pintor em busca incessante e obsessiva pelo modelo ideal: não importa se ele tiver de cruzar Paris de ponta a ponta em busca da paisagem inspiradora; ou de passar um dia todo sem comer, concentrado em acertar o traço mais preciso. Ocorre que a ambição de Claude, assim como a dos colegas, é produzir um trabalho que seja suficientemente bom para ser selecionado para o Salão de Paris, a vitrine de maior visibilidade a um artista da época”, anotam os editores.

“Eis a deixa para Zola voltar seu olhar ferino para questões morais, um dos temas centrais do naturalismo. Existe ali toda uma engrenagem pela qual não necessariamente os melhores trabalhos são os escolhidos. Jogos de cartas marcadas, apadrinhamentos, favorecimentos: a arte mais inventiva ou original pode muito bem acabar preterida por esses expedientes nebulosos, para ser desovada no pouco glorioso Salão dos Recusados. Logo passa a haver uma mobilização para que a população, e não um júri de critérios pouco claros, seja a responsável por esse processo seletivo. Mas a percepção nem sempre será favorável aos artistas...”

Frente a esse cenário, Claude, como leremos, encarna a determinação inegociável dos intelectuais combativos e, par a par com ele, o leitor do presente poderá testemunhar dramas e desacordos que, se perturbavam o meio intelectual do século XIX, talvez não causem menos ruído nos dias que correm.

Sobre a coleção – Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Confira aqui as obras já publicadas.

Título: A obra
Autor: Émile Zola
Tradução: Jorge Coli
Número de páginas: 408
Formato: 13,5 x 20 cm
Preço: R$ 89
ISBN: 978-65-5711-128-4  

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