Ensaios de Darwin que precedem 'A origem das espécies' ganham edição em português

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quarta-feira, 13 de abril de 2022

Textos escritos em 1842 e 1844 pelo naturalista inglês como “esboços” de sua obra magna foram posteriormente editados de forma cuidadosa pelo filho, o botânico Francis Darwin  

A expedição de Charles Darwin pelo Hemisfério Sul a bordo do navio HMS Beagle, realizada entre 1831 e 1836, resultou em diversos trabalhos sobre fauna, flora e até́ geologia. No entanto, apesar de ter raízes ali, naquele manancial de preciosas anotações e epifanias, sua teoria da evolução das espécies, que mudou completamente o rumo da biologia e da ciência em geral, viria a ser publicada apenas em 1859, em A origem das espécies. Nesse meio tempo, o naturalista produziu dois ensaios: um em 1842 e outro em 1844, servindo como pavimento do caminho até sua obra magna. Agora, o leitor brasileiro tem acesso a esses Fundamentos de A origem das espécies, obra lançada pela Editor Unesp. Ao chegar ao público em 1909, os textos haviam passado por uma cuidadosa edição do filho de Darwin, Francis, botânico que estudou e trabalhou com ele.

“Na introdução da Origem, Darwin relata que, em 1844 – portanto, quinze anos antes da publicação de sua obra mais importante –, preparou a versão final de um ensaio que organizava as conclusões teóricas que resultaram principalmente da paciente observação do material colhido ao longo de sua viagem a bordo do HMS Beagle”, anota a tradutora da obra, Lara Pimentel Anastacio.

Segundo Anastacio, “o manuscrito, que apresentava os fundamentos da teoria da seleção natural a partir da luta dos seres vivos pela vida, não foi publicado pelo autor, que preferiu, à época, apenas compartilhá-lo com seu amigo, o botânico Joseph Hooker, em um gesto de confiança que posteriormente adquiriu importância jamais imaginada por ambos: alguns anos depois, em 1858, o naturalista Alfred Russel Wallace, com quem Darwin trocara correspondência sobre o tema geral da “transmutação das espécies”, envia-lhe um ensaio, resultado de seus estudos pelos arquipélagos malaios, descrevendo os mesmos princípios da teoria da seleção natural presentes no manuscrito de 1844, o que colocava em risco a originalidade da descoberta que até então permanecia inédita.”

Escrito com rapidez, quase como um brainstorm de ideias e exemplos para serem mais bem trabalhados posteriormente, o Ensaio de 1842 tinha frases construídas sem qualquer preocupação gramatical e foi grafado sobre papel de baixa qualidade. As muitas anotações feitas a lápis por Darwin – editando, corrigindo e alterando o texto – acabaram sendo selecionadas pelo tempo – muitas delas se apagaram, dificultando ainda mais o entendimento desse rascunho. Dois anos depois, ele ampliou e inseriu argumentos e exemplos para dar mais sustentação à sua teoria da evolução das espécies. Baseado nos escritos de 1842, o Ensaio de 1844 é mais robusto, escrito com mais zelo, apesar de ainda não apresentar a potência da principal obra de Darwin.

No fim, os dois ensaios vieram a público somente em 1909, após cuidadosa edição feita por Francis Darwin, que comparou os dois ensaios entre si, e estes com A origem das espécies, tentando complementar as palavras que o tempo apagou, inserindo notas e comentários nos pontos em que há similaridade ou discrepância entre as obras, evidenciando que a teoria darwinista passou por um longo processo de decantação e aperfeiçoamento. “Todos esses detalhes são informados nos cuidadosos comentários do editor nas notas de rodapé́, mantidos nesta edição como presentes no original”, esclarece a tradutora. “Também intencionamos que a tradução reproduzisse os manuscritos enquanto fase de uma longa pesquisa científica, conservando seu estilo e sintaxe mesmo nos trechos em que autor demonstra incerteza ou ambiguidade. A edição preserva, assim, não somente os passos dados até a ulterior conclusão da Origem, mas também o processo de elaboração de uma nova linguagem para a biologia, elemento fundamental para o pleno desenvolvimento da ciência que então despontava.”

Sobre o autor - Charles Darwin (1809­1882), naturalista, biólogo e geólogo britânico – na esteira de uma busca secular pelo conhecimento dos mecanismos que regem as formas de vida e sua adaptação no planeta empreendida por nomes como Buffon, Lamarck, Cuvier, entre outros –, inscreveu seu nome na história das ciências com a sua obra magna, A origem das espécies. As teorias de Darwin permaneceram como base para todo o desenvolvimento científico na área ocorrido no século XX e entram no século XXI ainda vigorosas e atuais.

Título: Fundamentos de A origem das espécies
Autor: Charles Darwin
Comentários e edição: Francis Darwin
Tradução: Lara Pimentel Anastacio
Número de páginas: 336
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 72
ISBN: 978-65-5711-091-1

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
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