Série Grandes Diálogos no Memorial recebeu os professores João Ceccantini e Thiago Valente no dia 28 de maio em São Paulo (Foto: Katia Saisi/Pluricom)
Pesquisadores da área de literatura têm manifestado crescente preocupação com a condenação de obras infantis e juvenis de reconhecida qualidade por certos grupos da sociedade. Esse foi o foco da mais recente edição da série Grandes Diálogos no Memorial, intitulada "Chega de literatura infantil e juvenil na fogueira: nem censura, nem cancelamento!".
O evento contou com a participação dos professores João Ceccantini, da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, câmpus de Assis, e Thiago Alves Valente, da Universidade Estadual do Norte do Paraná, dois dos autores do livro Literatura infantil e juvenil na fogueira. Eles discutiram o repúdio crescente a obras literárias destinadas ao público infantojuvenil.
Nos últimos anos, tem sido comum o surgimento de episódios em que obras literárias infantojuvenis, muitas vezes premiadas nacional e internacionalmente, são alvo de condenação por razões morais, religiosas, raciais ou políticas. Segundo os professores, essas atitudes repetem gestos irracionais e revelam uma forma de censura que afeta tanto textos clássicos quanto contemporâneos. "Por conta de uma leitura rasa, livros são censurados e cancelados", disse Ceccantini. "Por trás de um censor, há sempre um péssimo leitor".
Entretanto, a prática não é nova no Brasil. "A biblioclastia está entranhada em nossa história", explicou Ceccantini, lembrando que a impressão de livros foi proibida no Brasil de 1500 até 1808, durante todo o período colonial.
Os pesquisadores abordaram a censura de forma ampla, considerando perspectivas históricas e teóricas, e incluindo a autocensura – um processo psicológico inerente à criação do escritor – e a "censura soft", que dificulta a chegada dos livros aos leitores. "Há em curso uma pedagogia da destruição de livros", disse Valente. "E, com as redes sociais, em que as pessoas não se enfrentam cara a cara, essa prática tornou-se mais acentuada".
A série Grandes Diálogos no Memorial é promovida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), pela Fundação Editora Unesp (FEU) e pelo Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, braço acadêmico do Memorial da América Latina.
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